AMOR DE VAGABUNDO
Se me quer, detenha minhas pernas vagabundas. Abrace meu corpo esmilinguido e afague meus cabelos desalinhados. Não tenha nenhum preconceito, não zangue pelo meu cheiro de suor, não ache ruim porque não uso fragrância... E aceite as características estranhas do meu amor.
Sorria olhando para os meus traços que choram a toda hora, mesmo contendo as lágrimas que voltam a custo. Que seu olhar penetre bem profundo, hipnotizando meus olhos fundos, enterrados na face. Beije minha boca mesmo ressequida, trague dela o sabor amargo de minha vida, e não repare no sabor de fome. Aprenda a gostar do mesmo!
Se me quer... Ah, se me quer!... Para ter este homem, seja muito mulher! Não apenas fêmea, porque não sou só macho, e verá: Tenho paixão ardente... Como vem reluzindo a mesma!... Como incendeia este meu facho!... Passe as mãos pelo meu rosto cheio de poeira e de penugens, é nas estradas que as consigo. E não ache que a minha tiracolo incomode: Acostume-se, acomode-se, sempre a levarei comigo.
Descanse no meu ombro caído e cansado, no meu dorso corcunda ou no regaço, e jamais ache que minha calça está imunda.
Sou todo defeitos, mas me aceite como se fosse perfeito... Um ser humano sem falha. E logo segure minha mão para seguirmos. Minha mão que não faz nada, ou melhor: Apenas componho... E viva com este homem; viva com este vagabundo que só vive do sonho.
Rio, 1987.