Onde estas agora?

Era uma  menina, pequenina, tímida, encostadinha sempre num cantinho de algum móvel...como se estivesse a se esconder...era a caçula da familia de cinco pessoas. O pai era severo, a mãe, tentava acalmar os ânimos, principalmente quando a menina foi crescendo e nada da infância lembrava, nenhuma fato marcou essa infância, nenhum fato de grandes alegrias, como festa de aniversário, bolas coloridas na sala, muitos doces, como os que via nas festas das amiguinhas, das poucas amiguinhas do prédio. Foi passando pelo tempo e chegou a sua adolescência, foi precoce, seu corpo já mostrava as perfeitas curvas, era sedutora,...seus cabelos belíssimos enfeitavam seu rosto, que nem era tão belo, mas com seu olhos negros e aqueles cabelos entre um louro e mel...ficava radiante, e surgia uma beleza e uma sensualidade, quase fatal. Era simples, no entanto, sua timidez de infância a acompanhava e nunca a deixou. E essa timidez, misturada aos impulsos de adolescência, faziam dessa menina uma bela mocinha que brilhava ao aparecer, sem seu rosto ser tão belo quento de outras amiguinhas, ela se destava pelo contexto final e fazia sucesso em seu 
meio de amizades...Era cheia de sonhos, foi bailarina, foi
professora, foi médica, salvou a humanidade de vários problemas e tristezas...menos a que ela trazia bem dentro de seu íntimo, mas não sabia explicar...e fingia que não existia. Nas festas que ia escondida, ora criando trabalhos do colégio em casa de amigas, ora criando aulas de conversação...ela estudava uma  língua estrangeira, e vivia com aulas de conversação durante a semana e até no sábado...pois eram professores especiais ..porque para estudar  podia sair..para passear ou namorar...era proibida. Inteligente, criava mil situações, e com isso ia a bailes, festas , chás dançantes, era muito usado na 
época. Dançava tudo, fox, bolero, rock,tango, mas gostava mesmo era de rosto colado...um "contigo em la distancia" era a preferida...não parava nas cadeiras..dançava todo o tempo, sempre tinha par. Com sua saia bem rodada, ao dançar o rock ficava feliz e a vida sorria. Nos anos 60 as jovenzinhas eram felizes...e os rapazes, bem mais inocentes. Nesse tempo, a vida era um sonho...namorava quem escolhia, nunca estava sozinha, sempre tinha um candidato a espera, para ela a  vida prometida  era só felicidade, pois seus sonhos eram perfeitos. Podia ficar na janela a esperar o rapaz do edificio em frente, sair aos domingos para o jogo do Flamengo e depois, teria a desculpa do trabalho para segunda feira..e lá ela se encontrava com seu belo amor, no cinema, na rua um pouco mais deserta...e corria pra casa , não podia passar da hora estipulada..Nessa época a menina podia sonhar, decidir o que seria, com quem ficaria na vida e sempre pensava no flamenguista vizinho...e ela passou a torcer pelo Flamengo apesar de detestar jogo. Nessa altura da vida, ela se olhava no espelho e gostava do que via, vaidosa, cuidava daquele cabelo que sabia ser seu principal atrativo.
Essa mocinha cresceu...viveu...seus sonhos foram ficando gastos..esquecidos..tudo mudou e de repente, deu conta que já não se olhava mais tanto no espelho, já não gostava tanto do que ia vendo com o passar dos anos... Um dia, dia de muita melancolia...de consciência de perda... olhou-se no espelho e perguntou a si mesma.."!..onde foi que deixei aquela menina tão formosa...em que lugar do caminho a esqueci ? Era feliz, sonhadora, amava, onde tudo ;se perdeu...quando foi que nem vi...ela se perdeu ficou num passado distante, tão longe que parece ...não aconteceu!
Ela não me seguiu, ela parou em algum canto da vida e desistiu...não mais poderá ser encontrada...mas, muito estranho!! A mocinha alegre e feliz..ficou no meio do caminha da vida...mas deixou comigo a tristeza que trazia na alma, essa tristeza que incomoda, que traz a solidão junto e a incerteza...a incerteza de um dia poder ser feliz novamente.
             NAJA
naja
Enviado por naja em 16/10/2007
Reeditado em 29/10/2007
Código do texto: T697258