O HOMEM FALA O POETA ESCREVE (2)

“Onde acaba o homem e começa o poeta”?

Eis uma pergunta que qualquer um de nós pode fazer a qualquer momento...

Eu também posso levantar a questão e ninguém melhor que eu para responder ao meu caso pessoal.

No entanto a resposta pode não ser assim tão fácil, pois em cada um de nós existe uma perspectiva muito própria de encarar a vida e logo, de ver a poesia.

Nem sempre escrevo no mesmo plano de criatividade: Umas vezes falo de assuntos mais ou menos pessoais, noutras vagueio muito para além do que é razoável, nas asas da imaginação...

Vivemos cada vez mais nos limites, pois existe uma urgência intuitiva de desfrutar das inúmeras criações com que o génio humano nos brinda a todo o instante e sem nos darmos conta, o tempo escapa-nos por entre os dedos a uma velocidade estonteante... No final de cada dia, podemos questionar-nos: “Mas afinal que foi que eu fiz de útil, hoje”?...

Há um crescente dúvida existencial em cada um de nós, que nos leva a procurar refúgio nalgum lado, e muitos de nós não encontramos esse abrigo... O poeta, refugia-se nas palavras, o que poderá explicar em parte, o número de novos autores em crescendo, um pouco por todo o lado.

Muitos de nós não o quererão admitir, mas a verdade é que nos sentimos cada vez mais isolados, apesar de sermos uma multidão, pois temos dificuldade em encontrar quem pare para escutar, fitando olhos nos olhos, sentimentos que são – ou deveriam ser - comuns a todos.

As palavras são a terapia do corpo e da alma. Com elas tornamos mágoas, em genuínas obras de arte, embora nem sempre devidamente apreciadas, pois quem olha, por vezes está pensando nas suas próprias dores... Todas as vezes que se faz luz nalgum espírito, é porque este já passou por pela situação descrita.

No entanto, tenho saudades de uma boa conversa, simples sem artifícios, sem a interferência das megalomanias humanas.

Nada consegue substituir a autenticidade das palavras, ditas no calor do momento; nada se compara ao perfume da saudade, dos momentos harmoniosos que os anos nos querem roubar; nada mais natural que uma conversa franca e despreocupada, de uma longa noite de Inverno, em redor de uma lareira, assando umas castanhas e bebendo água-pé nova...

Ninguém me deve levar a mal, de eu fugir do brilho hipnótico do computador - que condiciona o que de mais humano e natural existe em mim – e procurar refúgio na sombra de alguma árvore ou deixar navegar os meus sentidos no cimo de alguma elevação, escrevendo no papel alguns textos inspirando os perfumes da natureza.

É nesses instantes que o homem fala em perfeita comunhão com o poeta, tornando-se - aí sim – um único ser!...

O homem e o poeta... Sem princípio e sem fim!

27/10/2007, Abílio Henriques - o Homem; Henricabilio- o Poeta.

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Ouça 4 textos de minha autoria no audio-blog português:

http://www.estudioraposa.com

“Lugar aos Outros 70", com Abílio Henriques

Um abraçooo luso!