CANTO SOFRIDO

Era um canto sofrido.

Um grito de dor sem haver dor de verdade.

Um gemido ouvido na madrugada, no silêncio profundo da noite.

Era uma cena sem diálogo. Também não existia monólogo.

Só havia o instante do pensamento fixo e da lágrima a rolar no rosto abatido.

Era um ser. Um vulto. Um mistério.

Era qualquer coisa jogada, entristecida, imóvel. Era um sem querer.

Uma sombra a vagar. Um nada que não faz falta. Mas era gente. Gente de um canto sofrido. Desmilinguido. Desnutrido. Desnorteado. Amargurado. Um ser que se foi, sem ser notado. Alguém faminto. Um simples ser humano a vagar. Ninguém por ele a esperar...

(Glaucia R Lira)