PROFECIA DO REENCONTRO

Ambos sabiam... não precisavam falar... os corações deambulavam pelos corredores do vento e desvendavam o segredo dos seus murmúrios à Madrugada que os recolhia num sorriso meigo. Eles sabiam que um dia uniriam as suas vidas desencontradas, agora em mundos paralelos, mas tão próximos. Sentiam-se em cada suspiro dos astros, viam-se em cada luz das estrelas. Viam desfilar paisagens do passado, memórias de outras vidas, remotos horizontes do Tempo. Abraçavam miragens de futuro, sendas mágicas onde entrelaçariam de novo seus olhares num enleio delicioso, perfumado de ternura.

Ambos ouviam Cânticos de Infinito nas Alamedas da Esperança, percebiam a sua alquimia no sibilar das estrelas que profetizava o reencontro tão almejado. Eles sabiam que não poderiam negar este anelo intrínseco, jamais poderiam esquecer a Flor Encantada que cresceu no Jardim dos seus Corações... Desfolhavam pétalas de música que o crepúsculo lhes consagrava em cada sopro de brisa... fonte das auroras que jorrava em cada recanto dos seus anseios.

O Destino distanciou-os, mas a força do amor tatuada em suas almas não apagou o brilho que propalava em cada um deles...era imenso o fulgor das suas áureas que incandescia afecto e bem-querer.

Os olhos dela viam-no em cada céu do seu pensamento. Sentia-o em cada zéfiro que lhe acariciava o rosto e percebia o diadema de estrelas resplandecente que ele colocava suavemente nos seus cabelos de oiro concedendo-lhes um brilho etéreo de eternidade. Ele ainda sentia o paladar frutado dos lábios dela nos seus, o calor do seu corpo colado em si, num afago terno, melífluo e sensual. Ele sabia que ela não esqueceria as fragrâncias de rosas rubras que ele espargiu na sua pele... que ao deixar nela o seu perfume poderia levar consigo o seu coração e encontrá-la para sempre nas Áleas do Infinito. Ela também sabia... eles acreditavam.

Por ele, ela compunha poemas, versos orvalhados de saudade... chamava por ele em rimas que prosperavam ondulantes no alvoroço da sua existência... ela sabia que a Lua albergaria a sua poesia no Livro Sagrado do Cosmos e que a levaria impressa em folhas de cetim ao seu amado. Bastava que ele entendesse a sedução do luar e bebesse o licor abençoado das constelações.

Por ela, ele embriagava-se de inspiração, desenhava metáforas azuis nas páginas dos cometas... esculpia sonhos, pintava telas de cores celestiais... silhuetas perfeitas do seu corpo que ele cingia meigamente como se ela estivesse presente... floresciam nos seus quadros lírios alvos para a consagrar quando eles se tocassem no trilho sagrado do reencontro.

Ambos sabiam da profecia... e esperavam...

*Fanny*