QUE É SER POETA?

O que é ser Poeta? Despojar-se d’alma?

Romper com estados de consciência convencionais?

Falar da chuva, do vento?...Falar de amor?

Ser poeta... Ser um conquistador no verdadeiro sentido da palavra,

ser um conquistador da vida, conquistar ânimo a cada novo dia para prosseguir, poeticamente, poetando, inventando o dia, a noite, inventando um motivo novo, antigo, ancestral para continuar.

No âmago buscar uma conquista a conquistar, sabendo de antemão que nada verdadeiramente se conquista que não seja a própria condição de homem.

Mas o que é ser homem? Sentir? pensar? Sorrir? Ter emoções? Para que? Se no saber oriental o ser se conquista não sendo. E não sendo conquista-se sendo. Mas sendo o que? Para que Para quem ? Para si mesmo? Mas se o eu deve ser após conquistado, esquecido. Ser Poeta para mergulhar no não ser sendo com todo o uno, o todo, e o todo é o nada.

Tanta complexidade, tanta parola.

No dizer poeticamente, nada se diz tudo se conquista e cada frase, cada dito, é descoberta d'alma que clama por dizer, manifestar-se, pois em se manifestando é a única forma de gerir-se como ser como vivente, falante...

Ser Poeta é desabrochar e como raio de sol novo a cada manhã é esquecido ao cair da tarde. Já é noite, e a noite é lado imerso, inverso, sub verso, inconsciente do poeta que insone espera novamente o dia com luz para dar luz a nova conquista do continuar, seguir e perseguir-se para enfim encontrar o não dito das suas emoções.

Nas palavras não encontramos o verdadeiro sentido do viver do poeta que escreve e através do que escreve esconde-se, oculta seu verdadeiro ser que se mascara de falador por ser um quieto, um solitário, mudo e incompreensível tal qualquer outro. Pois o ser estar é indizível. Porém a dor do não poder comunicar jamais o que e como nos sentimos nos traz de volta a indiscutível solidão. Nascemos sós.

Retornaremos ao pó ou aos céus como crêem alguns sós, e com nosso silêncio apesar do tanto falar, do tanto escrever.

Poeta continua com tuas metáforas incompreensíveis, pois mesmo que tentasses ser claro, ninguém jamais entenderia porque escreves, porque cantas, duvido que muito do que dizes tu mesmo entendas, pois escreves, poetizas para amenizar tua solidão que o diferencia dos demais e é justamente esta solidão consciente que cultuas, que cantas e te faz rir.

Poeta "faz de conta" que aos teus admiradores escreve e cantas, encantas é verdade mas o que mais aprecias é a conquista do inconquistável, justo o que amas como nenhum outro ser, é certamente tua solidão que te possibilita o encontro com a forças que tudo produzem. Solidão esta que te liberta de toda convivência com as realidades relativas. Já estás noutro plano no plano dos que se libertaram e passam pela vida tecendo uma essencial escuta de ti mesmo e sem a angústia da busca de preencher-se com um outro, pois tens o outro dentro, te unificas e beatificas na santidade de ser só, ser pó, ser tudo e nada.Poeta és livre para inventar, desinventar, tirar e por a máscara que os demais usam inconscientemente.

Poeta és um observador das tuas próprias emoções. É aquele que cantando, escrevendo, fala e no falar te esvazias do viver, e já és pronto à nova conquista que esvaziando retorna às origens ontológicas do ser. Digeres, vive e morre a cada poema, vive muitas vidas e conquistas e te abandonas no vazio de tu’ alma plena.

Virginia/ 1995 vicamf

( conforme Nietzsche todo ser profundo precisa de máscaras, para sobreviver e mesmo que não se mascarasse, os demais que vivem na superficialidade não conseguiriam penetrar as profundezas nas quais vive o poeta, o artista, o filosofo...)