Vinhedo

À Lígia, minha uva doce.

Roçar das folhas;

Entrelaçar de galhos...

Vinhedo de uvas finas,

Requintadas,

Convite: Embriague-se!

Tuas uvas,

Rosas do vinhedo glorificado pelo sol,

Arte do saber do provar das uvas...

Tuas uvas em minhas mãos, meu vinhedo,

Querem ser colhidas...

Beijos aveludados,

Mãos que se sobrepõem em tuas montanhas,

Falanges que escorrem do alto como cachoeira de águas turbulentas,

Desejos do encontro da serenidade do rio-leito.

Galhos que se cruzam,

Folhas que escorrem pelo meu rosto,

Aveludadas por lã macia que tece minha pele,

Cheiro de rosas exala essências,

Pluralidade que é singular...

Singularidade pluralística...

Uvaça!

Vinhedo de terra sedenta por colheita...

Teus montes aveludados: entrelace...

Entre, lace, entre laços,

Nós que não desatam,

Nós: laços de folhas dos vinhais do desejo indissimulável...

Se todas as uvas fossem como as tuas,

Doces, lindas, perfeitas, prontas para a prova,

Debruçar-me-ia sob teus vinhedos,

Embriagar-me-ia,

Coma alcoólico por tuas uvas...

Vou até tuas uvas,

Vôo até tuas uvas,

Vôo, nelas...

Sobrevôo da impotência dos mortais sobre as tais,

Mergulho nos teus vinhais...

No embriagar das tuas uvas há ingresia...

Sou influído das tuas folhas,

Tento colher uvas incólumes,

Uvas dos apetites que viciam...

Do cobiçar do que quase vejo,

Quero quase colher tuas uvas...

Deita-te meu vinhedo,

Quero colher tuas uvas,

O suco nectante dos deuses que me ordena: prove ou morra!

Se provar, sei que morrerei aos poucos,

Se morrer, sei que, dos deuses, terei o teu nécta e, vagarosamente, serei redimido...

Nécta da vontade de tuas uvas de serem colhidas...

Suco de uva molhada pela relva dos desejos,

Meus dedos embebedam-se com teu suco,

Misturam-se com as folhas que cobrem tua uva,

Afaste-as!

Quero provar tua uva...

Sinto teu cheiro suave,

Essência de uva de relva,

Gosto doce-amargo de uva recém colhida,

Uva molhada de mel,

Mel da tua uva:

Gosto que se me dá...

Fecho os olhos e vejo o gosto de tua uva,

Moldam-se, contorcem-se, tremem os galhos do teu vinhal,

Chacoalhar dos desejos quase colhidos,

Chocalhar febrento, louco, que se expurgam de tuas uvas...

Mostra-me os teus vinhais secretos,

Íntimos das uvas entre galhos,

Tipo de uva rosa,

Rosa das essências in natura,

Natureza mística, só as uvas possuem,

Veneno que redime,

Porção do mar sagrado dos vinhais das uvas que me redimem,

Uva cotilédone...

Quero meu galho em teus vinhais,

Quero ser um com tua uva cotiledônea,

Uva vultosa,

Precisa de galho, de folhas, de mel, de adubo...

Meu galho quer tua uva,

Entremeando-se: meio;

Meio que é inteiro,

Uva repartida ao meio-inteiro,

Meu inteiro,

Meio que se completa, se sacia, que, aos poucos, se desmistifica,

Dês mistificar...

Dês-me ti: ficar nos meios dos teus vinhedos...

Desço pelos teus vinhais,

Sou entre - uvas,

Uva cotilédone quente,

Sol dos desejos justapostos,

Embriaguez uvesca,

Nécta dos vinhais dos caracóis de folhas entre teus dois galhos aveludados...

Mel das uvas,

Das plumas,

Da lã,

Do entrelace de galhos, de folhas, de orvalhos, de terra,

Do fincar do galho convexo na uva côncava entre aberta,

Do fincar do adubo que tenho...

Do amanhecer de meu adubo plantado pelos teus vinhais.

P.S.: Esta poesia está devidamente registrada em cartório no nome do autor. Toda reprodução sem a devida autorização sofrerá as sansões penais previstas em lei.

Carlos Maciel CJMaciel
Enviado por Carlos Maciel CJMaciel em 09/12/2005
Reeditado em 09/05/2017
Código do texto: T83371
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