BALADA DO DOENTE DESESPERADO

 

 

 

 

 

Help! Help! Fui traiçoeiramente contaminado.

Por um vírus deveras desconhecido e incurável.

Não sei se foi no respirar ou no beijar,

Alguém feminino do grupo de risco.

Fui ao médico correndo e desesperado.

Depois de minucioso e demorado diagnóstico,

O doutor meio sério e muito apiedado,

Por cima dos seus brancos óculos,

Escreveu a receita e arriscou o prognóstico:

É incurável com raízes no emocional.

Dieta: Carinhos, beijos e muito antibiótico.

Não comerei as verdes pétalas da alface.

Somente carne branca e um pouco magra.

Não comungarei a hóstia desbotada da cenoura.

Quero o frescor da melancia vermelha,

Que existe nos lábios de uma enfermeira.

Nescafé batido a ponto de creme,

Para amainar a tosse desta emoção.

O medicamento será de quatro, em quatro horas.

Ministrado em gotas suaves e regulares.

Pra não deixar a doença ir embora.

Sinto que o mal não arrefece.

Chamem a enfermeira, urgente!

Somente os seus beijos me aquecem.

Mas se eu não apresentar melhoras,

Que ela me faça uma intravenosa

Com o soro de sua vida nas artérias minhas.

Garanto que ressuscitarei em meia-hora.

Não me levem para a UTI!

Entre fios e aparelhos, eu tenho alergia.

Internem-me no andar de cima,

Meia parede com o da enfermaria.

Mas... Se o meu estado de saúde piorar...

Chamem novamente a enfermeira,

Pra me fazer uma rápida cirurgia.

Arranhando-me com o bisturi das suas unhas.

E que me suture com o cordão lindo do seu olhar.

Mas se mesmo assim eu não melhorar,

Com o remédio que faça o real efeito.

Transportem-me para o outro andar,

O da enfermeira e, em seu leito,

Devo para sempre feliz repousar.

Quero pouca gente e muitas flores,

No quarto da enfermeira a me visitar.

Digam aos parentes que eu morri de amores.

Não foi de alguma doença vulgar.

Não chorem por mim, pois ainda não morri,

Daquela morte morrida ou natural.

Fui contaminado pelo vírus de amar.

Morro para vocês todos os dias,

Internado na enfermaria quarenta e sete.

Minha vida não corre risco, todavia,

Sinto-me seguro na pressão 12:7.

Ah, ela não é enfermeira, não é nada,

Talvez uma artífice da beleza alheia,

Pondo a beleza aonde não tinha

Querem saber o nome da suposta enfermeira?

Pois se atinem para as últimas rimas.

O nome dela é segredo deste paciente,

Hoje, inda pouco, ela passou por aqui,

Beijou-me e foi atender as suas clientes.

 

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 08/02/2008
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