AÇOITE FINAL

A negra implorou perdão ao seu senhor, não suportou a dor. Havia rumores de que o castigo viera por desafetos e desamores. Do pelourinho se ouvia:

- Por misericórdia divina... Pedia a escrava em sua sina.

Da vida as agruras lhe restam, suas forças esvaíram, suas lágrimas sumiram.

A impiedade imperou, e o senhor decretava a morte que antecipava o fim.

Com tantos maus tratos sofridos, morrer era banal.

Naquela noite, como presente pelo transcurso do Natal, ouviu-se do senhor o grito:

Recebe, ó maldita negra, o meu açoite final.

Anos a fio se passaram do dia deste episódio, que marcado pelo ódio, ficou gravado na lembrança.

Ainda hoje ouvimos o clamor daquela mulher sofrida, que da vida foi banida por motivo que não se alcança.

Saudade nenhuma fica desta ação impiedosa que levou uma negra formosa para além da existência. Mas uma lição aparece que deste ato promana, a desigualdade profana valorizada no passado.

- Tu, escrava, não vales nada, mas o teu trabalho nos fez crescer.

Assim, ainda hoje nos resta refletir sobre tua memória, da forma mais notória - negra, mulher, escrava. Reconhecendo o teu infinito valor lembrando os teus esforços, com ardor no que ajudaste a construir. Esta "Princesa" que o sul abriga ainda ouve o teu clamor, mas, agora, da felicidade pela conquista da liberdade que alcançaste aos olhos do mundo e da posteridade.

Homenagem do autor no Dia Internacional da Mulher.

Pelotas, RS, 08 de março de 2008.

Prosa poética premiada com Menção Honrosa na 30ª EXPOESIA/2008 -

Casa do Poeta Rio-grandense -CAPORI e Fundação Educacional do Sport Clube Internacional - FECI-Inter em 26/05/2008.