ESTRADA MUTANTE

Há quanto tempo não cantava tanto? Não tenho a menor idéia. Não estava em nenhum show, festa, seja lá o que for. Mas, como cantei !

Dei a mão a Gonzaguinha, Tom, Vinícius, Adriana Calcanhoto, Zélia Duncan, Taiguara, Ana Carolinha, Milton, Renato Teixeira, Tribalistas e outros ícones da MPB. Deixei a alma explodir em música, em pleno canto.

Foi um fim de semana mágico. Daqueles que nos fazem acordar na segunda-feira com os olhos brilhando, sorriso estampado no rosto e suspiros de alegria, de paz.

Percorrendo estradas sinuosas entre o Estado do Rio e Minas Gerais, meus olhos sedentos moviam-se, aqui e ali, encantados com o cenário que batia à porta do carro.

Do céu indecentemente azul às árvores lindamente vestidas de roxo, rosa, amarelo anunciava-se uma primavera precoce, fazendo a quaresma passar incógnita.

O imponente Dedo de Deus atingiu minha alma, apontava impiedoso para a imensidão azul e abençoava a mata verde em frenesi de vida.

Foi tanto azul, tanta luz, tanta energia que o coração palpitou, gemeu de alegria e explodiu ao som do vento incessante, que insistia em nos abraçar ao invadir as janelas escancaradas do carro.

Logo, logo, a estrada mutante mostrou suas ancas sinuosas, como uma cabocla de quadris fartos e sensuais.

Aqui e ali, chaminés de fazendolas avisaram que o café torrado, passado no coador de pano, nos esperava de mãos dadas com a broa de milho e o pão de queijo fumegantes de ansiedade por nossa visita. Visita mágica, que me fez mineira-faceira, uai, e feliz "um tantão" assim.....

(Escrito em 16/02/2008 - Leopoldina - Minas Gerais)