AI DE MIM!
Dezembro de 1990
Homenagem que faço a Manuel Antônio Álvares de Azevedo – Figura controvertida da literatura brasileira, o jovem poeta Álvares de Azevedo teria sido romântico? Ultra-romântico? Gênio, anjo ou demônio?...
Entretanto oscilando do lírico ao macabro, do piegas ao sarcástico, a sua obra é alvo de polêmicas. De temática intimista e saudosista, tendo como personagens principais as mulheres e a morte.
*1831
+1852
Eis a homenagem póstuma que lhe faço:
AI DE MIM
Que somente as estrelas me expiam ao longe e a saudade é uma dor teimosa, perseguindo todos os dias da minha torva vida.
Ó expiação injusta!
Ai de mim!
Ai de mim!
E neste langor, assanha-me sempre a lembrança de teu lindo corpo esguio que, virtualmente, o percorro embebido de desejos e lascívias inconfessáveis.
Ó cisma interminável!
Ai de mim!
Ai de mim!
Recordo-me ensimesmado os teus seios belamente inconhos, verdadeiras torres eriçadas e intumescidas prontas e expostas à lascívia.
Eram eles os meus embriagáveis alimentos de amor, por isso a minha fome continua hiante deles.
Ó mulher sementeira de ilusões!
Ai de mim!
Ai de mim!
Será que ainda existem em teu corpo os caminhos de lua e os sucos de maçã?
Neles, eu outrora caminhava em carinhos mensurando desejos, e os sucos, eu os bebia sedento de ti quando a isso me permitias.
Ó pálida mulher de sonhos gélidos!
Ai de mim!
Ai de mim!
E tu ó mulher, em contorcidas frenéticas buscavas ansiosa o ápice inimaginável do prazer.
Mas os teus olhos fingiam, para que eu não sentisse a tua vã luta desbragada na procura do êxtase desejável.
Ó castigo inevitável, ó lúbrica mulher!
Ai de mim!
Ai de mim!
Em teu corpo oceânico eu me naufragava te cobrindo de carinhos plenos, prazeres que mulher alguma um dia houvesse experimentado.
Exaurido nessa grata labuta e prostrado ante a pulcritude de teu corpo ali exposto e lânguido, assim o aconchegava ao meu para aliviar o teu tédio inglório.
Ó sentina de insatisfações!
Ai de mim!
Ai de mim!
Era um encanto o teu enlevo num Domingo de verão, ao ver-te reverenciada pelas flores em éclogas nativas e exuberantes.
A diplomacia daquele menino nos propiciava o refrigério com uma chuva artificializada, um ensaio de precoce cientista que nascia em jovem mancebo.
Ó poço silvestre de frustrações!
Ai de mim!
Ai de mim!
Finalizando esta cantilena saudosa eu me despeço de ti, um sonho que foi vivido, e que agora diviso grávido de saudades nos olhos pretos e nas melenas luzidias de uma menina, uma verdadeira extensão genética desse grande amor que naufragou em ti.
Ó mulher feita de mármore!
Ai de mim!
Ai de mim!