DIZERES INTIMOS

Até posso ser deficiente a sério,

Mas não ao ponto de ter uma pensão,

A vida tem o seu grande mistério,

Não quero que me dêem razão.

Só quero que me compreedem,

Que tenho direiztos á vida,

P'ra isso que se convencem,

Que me deixaram sem saída.

Eu não posso ser deficiente,

Profundo. Porque sei ler...

Escrever. Também sou gente,

Também sei compreender.

'Stou a pagar os erros dos pais,

Duma educação mui malfeita,

Vivo duma grande desfeita...

Que tenho mesmo a vida perdida.

Ás vezes apetece-me chorar,

Por que sinto mui nesta vida,

Que vale a pena mesmo pensar,

Que tenho a vida perdida

Não mereço ter esta vida,

De pensionista deficiente,

Que é mesmo mui conhecida,

Mas é mesmo tão dif'rente.

Eu só penso na morte,

Que venha mais deprressa,

Pra quem não tem sorte,

Por que esta vida não int'ressa.

A saúde é a nossa sorte,

É mesmo a maior riqueza,

Temos na vida que ser forte,

Tem mesmo tanta beleza.

O que escrevo não é poesia,

É o que me vai dentro d'alma,

Nesta vida é preciso ter calma,

Por que existe tanta hioocresia.

Sei que tenho uns irmãos,

Que querem ser mais qu'eu,

Mas não me querm dar as mãos,

Por terem andado no Liceu.

Sei que pareço um palhaço,

Mas ninguém sabe quem sou,

Enquanto não encontrar a ricaça,

Sou p'ra aqui o que passou.

LUÍS COSTA

11/07/2007

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TÓLU
Enviado por TÓLU em 11/04/2020
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