Silêncio

Afundo no silêncio. Fecho os olhos, e a escuridão me envolve. Nesse instante pertenço somente a mim mesmo. E eu converso comigo. Converso de um jeito que ninguém mais conversa. Quanto maior o silêncio e a escuridão, mais alto as vozes internas falam. Elas também me ouvem, validam o que eu falo e sabem dialogar. Elas não ficam somente esperando a hora de falarem, elas embarcam nas minhas histórias e nas minhas perspectivas. Meus Eus internos me ensinam a ouvir. Eles não estão querendo provar que estão certos, o que importa é a troca de ideias com os outros, as conexões que tem. Do que adianta estar certo? – Eles dizem. Falam que é tolice estar certo sobre algo e que isso não existe.

Quando esqueço do meu mundo externo e viajo no mundo do silêncio e da escuridão, a intuição se amplia. Começo a sentir o vento soprando nos pelos dos meus braços. Posso ouvir meu coração batendo e também posso sentir o oxigênio sendo combustível para o meu organismo. Como não existe luz sem sombra, meus problemas e dores também são percebidos e gritam para serem curados. Não se pode enxergar o céu sem antes passar pelo inferno. Nesse momento peço ajuda dos meus Eus internos. Eles costumam analisar as situações de várias perspectivas diferentes. Um dos meus Eus favoritos é o Eu do poder. Ele sempre propõe que estale meus dedos e destrua os fantasmas internos. Eu digo que não consigo e ele responde: Não se esqueça que o universo é mental. Se você quiser você pode. Você deve aprender a fluir pelo seu existir como um rio que deságua no mar.

Quando me vejo como um rio realmente tudo se torna mais fácil. Saio arrastando tudo que tem pela frente e chego ao mar. O problema é que me dói quando paro para pensar que existe um caminho de destruição por onde passei. Meu Eu do poder esquece que sou propenso ao exagero e não sou tão consciente disso quanto ele. Eu não sigo como um rio, sigo como uma enchente altamente destrutiva. Sorte que existe meu Eu filosófico que me acalma e faz com que essa enchente se transforme numa sutil gota de chuva escorrendo nas pétalas de uma flor roxa.

São vários Eus. O do Poder e o Filosófico são meus favoritos. Ambos têm poderes construtivos e destrutivos abissais. Uma vez vi os dois conversando. A energia que se criou da conexão deles seria capaz de destruir cem via lácteas em menos de meio segundo. Passei o dia com dor de cabeça. Todas essas histórias, embates, diálogos, confusões, aventuras, distúrbios, alucinações, projeções, premonições, visões, encontros, acontecem quando fecho os olhos e silencio a boca e os ouvidos. Gratidão ao silêncio e à escuridão – dentro e fora de mim.