Pleonasmo redundante

Aquela tarde tinha tudo para manter o mesmo panorama geral de verão e continuar ainda com aquela cara de brisa matinal da manhã. Eu precisava dar tão somente aquele acabamento final, que exige mínimos detalhes na obra de arte do senhor Joaquim Nogueira, General do Exército Brasileiro. Mas, como nem tudo que a gente quer é, tive que adiar para o dia seguinte, se desejasse que a obra tivesse as metades iguais de tinta e perfeccionismo.

Caiu à tarde. Veio a noite e com ela os sonhos e a goteira no teto. Não há muitos anos atrás, um brigadeiro da aeronáutica, de jeito hostil, mas, de uma bela caligrafia, teve uma hemorragia de sangue, após uma lipoaspiração que introduziram dentro dele agulhas meio estranhas. Tudo o que se via e ouvia eram labaredas de fogo que pareciam decapitar a cabeça do bom homem. Ah, e como se não bastasse, em meio tamanha dor teve hepatite do fígado. Coisa de louco, que até o Almirante da Marinha ficou boquiaberto com a novidade inédita.

Acordei. Sonho estranho, confuso. Faltava um elo de ligação naquela surpresa inesperada que meus olhos ganharam por instantes de cochilo. O dia não havia amanhecido, resolvi ligar a televisão, quando de repente o repórter fez uma alocução breve ao monopólio exclusivo que empresas estadunidense tem feito em relação a ocupação de terras na região amazônica, destruindo o habitat natural de inúmeros mamíferos. O difícil é conviver junto com essa situação, num momento em que os países do mundo, se juntam para dizimar completamente o demente mental que assola a fraternidade humana.

Nada de sono. Tinha que encarar de frente aquela situação desconfortável. Descer pra baixo na cama, rolar. Que insatisfação. Desliguei a televisão. O radio liguei e, uma mensagem do Prefeito Municipal em pronunciamento oficial, junto aos vereadores da câmara municipal, versava sobre o erário público. Todos na verdade sabiam que o protagonista principal de todas as ações dele era ele mesmo e não povo de Consenso Geral.

Havia uma relação bilateral entre dois mundos na minha cabeça que, antes que chagasse a um consenso geral, me vinha um sorriso nos lábios incrível. De medo, de devaneio, de nada. Eu só queria dormir. Apaguei.

Agora já são 7h33. Maria vem correndo e bate a porta com a venta toda. Meu Deus, eu apaguei. Contudo, explodi em pêsames quando da notícia: Joaquim Nogueira faleceu.

Desconsolada, a viúva do falecido abraçou-me no velório. Nas mãos, Joaquim segurava sua própria autobiografia. Chorei desconsolado.

Era fato verídico que ele desejava que a tela que estava pintando estivesse e fosse a capa de seu livro que não pode exultar de alegria.

Mas, o que fazer? A sociedade organizada é assim: Dura, cruel. Todos os dias, milhões de meninas mulheres são humilhadas. Adeus à dignidade da pessoa humana.

Tinha tudo para ser uma tarde perfeita, uma noite tranqüila e um texto sem erros ortográficos, se não fossem nossos devaneios em subir pra cima com a vida.

Michael Wendder
Enviado por Michael Wendder em 20/01/2010
Código do texto: T2040645
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