11 de Setembro de 2001

Até onde podemos sentir-nos seguros no conforto dos nossos lares, no nosso trabalho, com a nossa família? Até que ponto acreditamos que, de um momento para o outro, não perdemos tudo por causa de um simples conflito do qual não temos culpa? Dificilmente pensamos diariamente nisto, e talvez não nos demos conta, mas é incrível como tudo é tão sensível, tão simples, e tão frágil na nossa vida.

No dia 11 de Setembro de 2001, justamente quando o mundo parecia tão seguro, terroristas da Al Qaeda sequestraram dois aviões da American Airlines que viriam a ficar na história como mísseis que destruíram a vida de 2758 pessoas que, por variados motivos, se encontravam nas torres do World Trade Center na altura.

A explosão inicial foi indicador de que algo estava mal, seguida dos destroços que voaram em todas as direcções. Quem se encontrasse na rua decerto ficaria assustado. O caos instalou-se. Voaram de todas as direcções câmaras, tanto particulares como de estações televisivas. Os bombeiros corriam, atarefados para salvar o máximo de vidas possível, acabando alguns deles por sucumbir quando a primeira torre ruiu. As pessoas corriam, algumas ensanguentadas, outras, em pânico, não tinham a coragem necessária para se tirar a si próprias de perigo. O pó, o sangue, os gritos e gemidos, as lágrimas, o sofrimento no seu estado mais cruel explorado ao máximo pelos meios de comunicação social. O mundo acordou sobre a imensa cobertura dada pelas televisões, rádios e internet ao assunto. Foi mostrado o lado mais cruel e mais temido por nós, humanos: a capacidade de não passarmos de animais.

Depois, às 9:03 da manhã, quando já não se podia imaginar pior aquele quadro de terror, a sombra de um enorme pássaro de metal pairou mais uma vez sobre uma Nova Iorque aterrada, duplicando o caos instalado e atingindo a Torre Sul do World Trade Center com um estrondo abafado apenas pelos gritos de quem assistia. É quase palpável o sofrimento vivido no avião por aqueles que, inevitavelmente, sabiam que a morte os aguardava de braços abertos, em forma de vigas de aço e tijolos ligados por cimento. Pior que, de facto, morrer, é saber o quando e o como, vendo que temos tudo a perder. Famílias se destroçaram, pais ficaram sem filhos, filhos, sobretudo, viram a morte dos seus pais em directo, num espectáculo de aberrações que mata por dentro. É tão fantástica a capacidade de cobertura das televisões e dos meios de comunicação em geral como assombrosa. Mulheres, homens e crianças ficaram, por horas, presos a uma televisão que serve tanto para fazer sorrir como para fazer chorar, e que naquele dia trouxe acima o que há de melhor e de pior em nós: compaixão e ódio.

Se o comum telespectador achava que aquilo seria o limite da crueldade que invadia as nossas casas naquele dia, talvez estivesse muito enganado. Minutos depois do inferno trazido à terra começar, surge, com uma velocidade estonteante, um ponto a descer uma das Torres. A principio parece um pássaro, mas, mais uma vez, a objectividade dos media choca, ao focar com precisão incrível um homem em pleno suicídio, após saltar de um dos andares mais altos do World Trade Center. Sem dúvida uma das fotografias mais mediáticas e significativas do Século XXI, intitulada hoje como “The Falling Man”. Sente-se, nesse momento, mais perto de nós o sofrimento de quem se encontra preso nos andares superiores, de quem é levado a morrer, de uma forma ou de outra, sabendo, por dentro, que já se encontra morto. Visto de perto, não pode ser considerado suicídio o acto de escolher a nossa forma de morrer, mas sim homicídio causado por quem induz tanta tristeza na sociedade humana.

O mundo aproximou-se durante aquelas horas, vivendo finalmente como um, unido pela tristeza e pelo sofrimento, como sempre, infelizmente. Os media? São, e foram, apenas o veiculo dessa tristeza, e o cordão que nos uniu às famílias daqueles que sofreram numa guerra que não era sua, que perderam tudo por causa de interesses que não eram seus.

Foram repetidas vezes sem conta, uma e outra vez durante os 56 minutos seguintes, as imagens do voo 175 da American Airlines a explodir nas paredes da Torre Sul, do homem que, ao desistir da vida, nos mostrou o quanto somos frágeis, do desespero de milhões de americanos naquele momento até que outra desgraça, esta talvez já prevista, aconteceu: o desmoronamento de um edifício que, pelas previsões humanas, supostamente deveria suportar tornados, terramotos, mísseis e mesmo o embate de um avião. Era a confirmação inevitável de que não havia volta a dar, mais uma vez bastante explorada pelos meios de comunicação. São célebres as imagens um nova-iorquino que foge dos destroços e da nuvem de fumo provocada pela queda da Torre. É o terror em directo, na sua forma impiedosa e severa.

Actualmente, passados 9 anos, a cada novo ano é relembrada com tristeza esta data, tanto na nossa memória como na televisão, ainda com imagens que nos chocam, e sobretudo não nos deixam indiferentes ao que aconteceu. É esse o verdadeiro poder dos media: não nos deixam esquecer. Estão lá sempre, para o bom, mas sobretudo – e infelizmente – para o mau. Uniram-nos de forma inequívoca pelo que mostraram e disseram, de forma nua e crua.

Infelizmente, o ataque terrorista aos Estados Unidos trouxe apenas mais guerras e mais mortos, esses raramente relembrados. O poder da destruição humana foi utilizado novamente, mas desta vez com a desculpa da Guerra ao Terrorismo, o que não o torna aceitável. Apesar das teorias da conspiração em volta deste atentado, a versão oficial é ditada pela comunicação social, seja ou não a verdadeira, ainda que verdadeiramente mal explicada.

O mais importante, acima de todas as versões, factos e mentiras, são as vidas que foram perdidas, vidas de pessoas inocentes, que nada de mal fizeram para merecer perder tudo do nada. Quanto ao “The Falling Man”, a imagem mais chocante daquele dia, serve, mais uma vez, para nos relembrar o quão frágeis somos, e o quanto temos a perder. É, sem dúvida, uma das imagens mais puras, e ainda assim chocantes, provocadas pelo rancor humano e transmitidas pela tecnologia. Representa o desespero, o abismo mas, acima de tudo, deveria representar a união e a esperança de, um dia, o mundo viver de mãos dadas, utilizando a poderosa comunicação em seu favor.

mconstantino
Enviado por mconstantino em 02/01/2011
Código do texto: T2705249
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.