Amor tardio? / juçara Valverde. - 1. ed. ZMP, 2021
Amor tardio? / Juçara Valverde. – 1. Ed. – ZMF Editora, 2021.
Os versos da juvenília contidos no livro Amor tardio, de Juçara Valverde, fazem interlocução com Ele, o homem amado, que dialoga com a jovialidade da autora com legendas poéticas sob fotografias de orquídeas de várias lavras ( Ana Maria Tourinho, Ascensión Chanqués, Euderson Kang Tourinho e Juliana Valverde), como se estivesse cercado pela primavera e pela sensualidade vernal especialmente da orquídea, como na primeira estrofe do poema Perfume de amor: Se a orquídea perfuma mais as mãos que a oferta/ a vida se sacia, delicada, reinventando luxúrias na certa – Pág. 22; embora também se refira à rosa no poema Rubra rosa, cujos dois últimos versos são: Acalanto e volúpia me invadem/ Reabrem a rosa rubra para Amar – Pág.20. Estando a matiz primaveril do poema no botão fechado da rosa, antes fechado e subentendido, como deve ser a boa poesia de intenção amorosa ou erótica, que provoca no leitor todas as subjetivações primícias como se ao se mostrar a quem lê o que Ele percebe. Quase nos fazendo esquecer o título do livro Amor tardio?, um tema que até à leitura do livro em tela era bem mais escutado e lido a partir de autores masculinos, em geral sombrios, vivendo dramas de perda da juventude e da compulsão por corpos jovens desde o drama maior do romantismo alemão, como no livro Fausto de Goethe, até e depois de até o livro Lolita, de Nobokov, entre muitos outros como A casa do poeta trágico de Carlos Heitor Cony.
Digamos que o autor másculo que mais se aproxima do que possa ser a aventura de ler o livro o Amor tardio?, de Juçara Valverde, seja Carlos Drummond de Andrade, ainda assim apenas em um verso, o famoso “...o amor é tarde.”. Cujo tom é melancólico, nos parecendo até tarde demais! Lamentação praticamente inexistente no livro em tela. Sabemos que Drummond, autor também do livro de poemas eróticos O amor natural, nos dá a entender que o que houve foi o uma ação libertadora da repressão do que é, de fato, erógeno, o que torna muitos homens fissurados em amores por mulheres jovens e se Drummond realizou o amor tardio com sua amante de longa data, mulher que amadureceu com ele, ou mais que isso nunca saberemos por completo, porque é também dele o verso: ... O que acontece na cama é segredo de quem ama.
Ao nos trazer a interlocução dos poemas autorais com Ele, a autora pode nos ter perguntado onde está o homem desejado por Ela! Vejamos no poema que dá título ao livro, Amor tardio?(Pág.15), como o eu lírico da autora nos faz as perguntas.
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Por onde andava esse homem
sensível, romântico e tão especial?
Por que não cruzamos nossos caminhos
antes do anoitecer?
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Tento responder à autora: esse homem andava, em sua maioria, batendo a cabeça por aí a fora. Para quando coroa lamentar que o amor é tarde, ou para viver o drama do Fausto, ou para quando velho (Ah! Como os escritores são melancólicos!) lamentar ou tentar buscar o tempo perdido, como fez Marcel Proust. Enquanto a autora, em seu poema Sonhos eternos (Pág.59) nos diz na primeira e na segunda estrofe:
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Na vida, o que amar traz de bom?
Vivências do frescor adolescente?
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Renova a emoção adocicada, puro dom
Recupera o tempo perdido, silente.
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Sabemos que o silêncio é libertador, que como homens escribas ou não convulsionamos os nossos sentimentos. Tudo que tinha falar sobre o livro Amor tardio? Eu já falei, paro agora, antes que volte a me perder em mim mesmo, homem, sem mais razão para continuar a ser como muitos antes de mim também tantos sofredores.