O Hospício das necessidades

O Hospício das necessidades. Livro I. A Máquina Rosa. De Luiz da Fonseca. Publicado pela Editora Evangraf (2007) continua sendo um marco literário em 2009. O ponto exato de ajuste de contas com a poesia vazia da ordem do dia porque o certo é despejar poemas no compartimento do sentimentalismo. O poeta Luiz da Fonseca aos poucos vai libertando a sua obra até mesmo da ficha catalográfica. Procura “desentravar as eternidades fáceis”, fugindo das concepções populares dos vates instantâneos e desnatados. Neste ponto distingue-se daqueles milhões de retratos abençoados com o débil título de poesia. Satisfeito e alegre por dentro da melancolia, sabe-se leitor da vida para dar gosto a primeira impressão viva de informalidade. Sem despencar na padronização da alma, mas: “agiliza a mão sobre a folha branca” de ofício em trabalho de neologismo. Em compensação há o protesto calmo sobre as sombras da desolação, por onde abre veredas que sobejam espaços... Cegando... Quebrando todo o tipo de composição forçada. Transcorre aos poucos como as águas no mesmo mar. Saindo ileso das frases poéticas inquietas condenando a inquietude ilusória.

Estilo que corresponde ao abraço intelectual das mais finas e elaboradas influências. O poeta Luiz da Fonseca reconduz a reflexão nos tomos da zombaria educada. Zombaria apontada contra o tédio mortal da imagem moderna e magra de sinais vitais. Há um ritual de existência em cada poema com o povoamento “de um delírio óbvio, senhores!”.

Constatação do pouco tempo que temos para noções precisas, portanto vamos fumando poemas que é a melhor saída para viver sem nicotina. Vamos bebendo cada página isenta da cirrose aflitiva. Sabemos que um livro de poesia merece lugar de destaque porque nasce para o convívio. Demora na alma. Aos poucos vamos percebendo a importância no cenário estéril das multidões produtivas. O Rio Grande do Sul está de parabéns porque voltou ao ponto isento da tradição. Está novamente livre para refletir poeticamente. Liberto dos dramalhões emocionais que a voz sequer denuncia como luz. É o primeiro livro de um novo contexto que dá adeus aos espaços quadriculados com palavras amontoadas.

A Editora Evangraf LTDA está de parabéns. Resta-nos aguardar com ansiedade os próximos volumes que completam a obra.