CIDADE LIVRE – ROMANCE DE JOÃO ALMINO – EDITORA RECORD-2010.

Na última vez que estive no DF, fui à Exposição do Cinqüentenário de Brasília no Centro Cultural Banco do Brasil. Uma exposição pobre. Lembro apenas do quadro As ruínas de Brasília, pintado por Oscar Niemeyer, pintura que realizou motivado pela observação de um amigo de que daqui a mil anos sua arquitetura teria a importância do Partenon.
Faltava um livro sobre Brasília na literatura brasileira. Agora não falta mais. João Almino ao escrever CIDADE LIVRE escava na terra brasiliense estes pilares que faltavam nas nossas letras.
Não esgota o assunto, deixando entreabertas picadas habitadas por cobras, onças e vegetações naquele cerrado.
Sem análises, porém através das ações dos personagens demonstra o processo de endividamento externo que a construção de Brasília causou.
Fala das vidas ceifadas, cada uma dela um drama deixado como possibilidade a ser escrito.
Mas, afora as referências às figuras ilustres que compareceram à Brasília embrionária, tem o mérito também de definir bem o número de personagens interessantes ao romance, o que faz o leitor fixar seu interesse nesses personagens, a despeito das paisagens móveis da Brasília em construção.
Há os aproveitadores que mal versam o dinheiro público.
Há os populares cheios de fé, entre eles a prostituta Lucrecia e o candango Valdivino, representantes da esperança escatológica do povo.
Interlocutores entre os aproveitadores e uma fé impossível de ser vivida em paz.
O livro é narrado por um menino que a tudo testemunha.
A narrativa utiliza claramente elementos da prosa de Saramago na organização dos diálogos, entremeia esses elementos com recursos próprios do autor o que faz essa utilização quase imperceptível mesmo ao leitor experiente. Tendo como resultado algo original, numa prosa rica onde a organização dos diálogos é secundária, é fundo de pano a tudo que acontece numa aura de mistério, que prende o leitor do início ao fim do romance e enaltece a literatura nacional.
Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 13/11/2010
Reeditado em 13/11/2010
Código do texto: T2613192
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