Beto

        
Os temas que compõem estes trabalhos acadêmicos, reunidos agora com o título "Ensaios", deve-se à estudos elaborados durante o ano letivo de 1969 a fim de cumprir conteúdo programático imposto por disciplinas do Curso de Filosofia.
         Dedico cada palavra, e em cada pensamento e reflexão, o meu ser se entrega e se volta  para a arte de amar, onde você, Beto, habitava o palco de minha alma. A sua ausência quebrou a sequencia do meu cotidiano, esvasiou-se o palco, se fez noite no meu coração, pois o  artista  era, no exercício de viver, você .Chorei a certeza de não mais ouvir  a musicalidade de sua voz; o adeus forçado, a separação. Choro hoje a impossibilidade dos afetos. Eu queria, como Mário Quintana, apenas a simplicidade da água bebida na concha da mão, ou as sacolas das mulheres em pontos de ônibus escondendo e embrulhando felicidades.
        Você partiu, adorado filho. Partiu sem ao menos dizer adeus; partiu sem ao menos saber para onde e por quê? Ainda assim você partiu, e deixou vazio o seu berço e a minha vida - a ausência  torturante de seu berço imóvel e sem calor, Você partiu levando o frescor de sua vida em flor; em seu lugar... saudade! Incontroláveis saudades de você, meu pequeno Beto. Saudades do seu sorriso, de seus pézinhos caminhando os primeiros passinhos, da musicalidadfe de sua voz - papá, mamã, tetéia - as saudades mais doídas de sua ausência, de seu calor puro de um ano, dois meses e quatro dias. "A trilha sonora  das palavras ainda ontem  ouvidas se misturam agora ao som das palavras recordadas, Você musicou o meu coração.
         Mas o meu amor por você, Beto, permanecerá inabalável e só fará crescer. Você está e estará presente em cada momento de minha existência, em todos os meus pensamentos-horários, e, no recesso de minha alma, lá estará o meu amor embalando-o ao compasso do meu coração. Permanecerá inflexível à ação do tempo assim como as estrelas que se apagam nas constelações do infinito, mas permanecem ainda, às vezes, por milhões de anos, brilhando e fulgindo nas vastidões dos céus. Renasce agora em minha alma, amparando-a, os versos de Cora Coralina:

 
     "Não morre aquele 
     que deixou na terra
        a melodia de seu cântico
          na música de seus versos"
                                                 
        E vamos ao armazém do passado, com dignidade e destemor, não apenas para reexaminar questões erroneamente vividas ou não como vencidas, mas também para se nutrir e fazer delas um instrumento de que se quer levar avante, agora, com as bençãos de Deus. Não devemos   nos esqecer, porém, que "ninguém vai hoje, ninguém foi ontem, ninguém irá amanhã, pelo caminho que eu vou".

                                              Roberto Gonçalves
Escritor
RG
Enviado por RG em 08/09/2012
Reeditado em 02/10/2016
Código do texto: T3871701
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