COMTE-SPONVILLE, André. A Felicidade Desesperadamente. São Paulo: Martins Fontes, 2001. (I)

Resenha:

O texto que fez surgir o livro foi originário de uma conferência-debate pronunciada pelo filósofo André Comte-Sponville em 18 de outubro de 1999, no âmbito dos Lundis Philo (segundas-feiras de Filosofia), no Piano’cktail, em Bouguenais.

A estrutura:

O livro a Felicidade Desesperadamente de André Comte–Sponville está estruturado em cinco momentos distintos. A primeiro é uma introdução à problemática alcançada pelo livro. O segundo, terceiro e quarto correspondem à discussão propriamente dita da questão estabelecida na introdução. E o quinto, como originário de uma conferência-debate, é o momento posterior à exposição e corresponde a um quadro de perguntas/questionamentos dos estudantes e respostas/esclarecimentos dados pelo conferencista.

Resumo:

Introdução:

Ao contrário do que acontece com a Filosofia Contemporânea, Sponville se filia a uma corrente de pensamento que busca na Grécia Antiga os fundamentos para uma Filosofia que objetiva a felicidade do homem. Ele parte do conceito de Epicuro (342 a 270 a.C.) para quem a Filosofia seria “uma atividade que, por discursos e raciocínios, nos proporciona uma vida feliz”.

Contudo o próprio Sponville vê neste conceito um “belo otimismo grego” que já não condiz com a visão moderna que temos sobre ter “uma vida feliz”. O máximo que se pode dizer sobre isso é que a Filosofia tende a nos proporcionar uma vida feliz.

É a partir de Epicuro que ele define, então, o que compreende por Filosofia: “é uma prática discursiva (influência do epicurismo, pois procede por discursos e raciocínios) que tem a vida por objeto, a razão por meio e a Felicidade por fim”.

Observa-se neste sentido, uma filiação aos princípios dos antigos gregos quanto à definição etimológica da palavra Filosofia, “amigo do saber”, philos (amigo) + sophia (sabedoria), para quem Sabedoria seria a meta primordial desse estudo. E é por isso que a definição de felicidade de Sponville passa pela construção da Sabedoria.

A Felicidade é a meta da Filosofia. Ou, mais exatamente, a meta da Filosofia é a sabedoria, portanto a Felicidade – já que, uma vez mais, uma das idéias mais aceitas em toda a tradição filosófica, especialmente na tradição grega, é que se reconhece a sabedoria pela felicidade, em todo caso por certo tipo de felicidade. Porque se o sábio é feliz, não é de uma maneira qualquer nem a um preço qualquer. (COMTE-SPONVILLE, 2001)

A compreensão deste conceito vai exigir o conhecimento de que a Felicidade é a meta, mas não a norma da Filosofia; o que significa dizer que se pensamos não é porque esta idéia nos faz feliz, mas porque esta mesma idéia nos parece verdadeira. A verdade é a norma da Filosofia, pelo menos a verdade possível, uma vez que jamais a conheceremos em sua completude ou com total certeza. E isso implica que se um filósofo tiver de escolher entre uma verdadeira tristeza e uma falsa alegria, ele deverá optar pela primeira. Só é filósofo de alma aquele que ama mais que a qualquer coisa a verdade. E nisto consiste a Sabedoria: ser capaz de vivenciar uma felicidade verdadeira ou uma verdade feliz.

O que é a Sabedoria? É a felicidade na verdade, ou “a alegria que nasce da verdade”. (...) É uma verdadeira Felicidade ou uma verdade feliz. Não façamos disso um absoluto, porém. Podemos ser mais ou menos sábios, do mesmo modo que podemos ser mais ou menos loucos. Digamos que a Sabedoria aponta para uma direção: a do máximo de Felicidade no máximo de lucidez. (COMTE-SPONVILLE, 2001)

Esta introdução termina com um ponto importante: a necessidade da verdade, pois “o essencial é não mentir, e antes de mais nada não se mentir”. Sponvilee se justifica dizendo que seu projeto de estudo sobre a Felicidade partiu dessa necessidade da verdade, desse não-mentir. “Não mentir sobre a vida, sobre nós mesmos, sobre a Felicidade”.