TODAS ELAS, AGORA – FRANCISCO GRIJÓ. EDITORA 2013.

O livro de contos Todas elas de Francisco Grijó, nos remete a outros livros de contos que falam sobre mulheres; cito apenas dois: Elas e elas de Rubem Fonseca e As cariocas de Sérgio Porto – o Stanislaw Ponte Preta. O livro de Rubem Fonseca fala de mulheres boas e ruins, os seres humanos são bons ou ruins, inclusive as mulheres, o conto Belinha do livro Ela e elas, por exemplo, nos remete à figura da parricida, que acaba assassinada pelo matador que pensara ter seduzido ao oferecer favores para matar o seu pai. Sergio Porto, por sua vez, fala da sensualidade da mulher carioca de classe média, um tema exuberante, já transformado em minissérie para a televisão.

A inspiração de Francisco Grijó não foge à regra de materializar crueldades femininas ou questões de gêneros, temática contemporânea, traduzida pela presença do lesbianismo. No conto Estranhos a bordo, por exemplo, que abre o livro de Grijó, há uma esposa a ser eliminada, por ser adúltera e querer, no processo do divórcio, se apoderar da fortuna do marido. Claro que aqui o assassinato é simbólico, não tem nada a ver com os feminicídios da vida real. Há personagens femininas que provocam ira, e a ira, às vezes, se conforma à justiça, sem que possamos acusar o autor de fazer a apologia do assassinato de mulheres. Belinha, por exemplo, do conto de Ruben Fonseca, sequer deveria ter nascido.

Todas elas, agora é um livro que fala em alguns dos contos do sofrimento masculino causado pela mulher, algo que é real, e que muitos homens administram sem cometer violência doméstica contra a mulher. No conto Adam Rubiel, Matilde e o velho escritor, o escriba está em seu leito de morte, e desabafa com o anjo Rubiel, em tom confessional de adeus, a sua história com Matilde, a mulher de sua vida, quase estéril, mas que engravidou e sumiu, voltando apenas para lhe entregar a filha, igual a ela fisicamente, que não quis mais criar e que veio a dar uma neta ao velho escritor, igual à avó, como se a repetição em série da beleza de Matilde se torna-se persecutoriamente desejada, por que certas vezes o amor nunca acaba.

É muito importante alguém falar dos sofrimentos masculinos, principalmente numa época em que sofrimentos são quase impossíveis de serem ouvidos.

No livro há contos que falam da cumplicidade entre personagens femininas, seja para fazer algum homem mais feliz ou para exterminá-lo, caso do conto Post Coitum ou as três cartas de Suzana, onde uma mulher pede a outra que elimine sexualmente o seu marido. Isso é belíssimo, desfaz o mito que mulheres não podem ser cúmplices em um crime passional contra uma figura masculina abjeta, tomada por donjuanismo extremo e satiríase fora de controle.

O Nelson Rodrigues das crônicas de A vida como ela é, também possui uma intertextualidade com o livro Todas elas, agora, de Francisco Grijó, aqui, entretanto, não nos estenderemos mais, porque, se a temática dos comportamentos femininos encanta os homens sensíveis, há muito a ser aprendido e a ser contado ainda.

O recorte que Francisco Grijó, em seus contos Estranhos a bordo, Adam Rubiel, Matilde e o velho escritor, Lupanare, A entrevista, A última grande cena de amor, Post Coitum ou As três cartas de Suzana, como estão as coisas em Glocca Morra? Agência e A felicidade ( três versões em cores) que compõem o livro Todas elas, agora traz novas contribuições a compreensão da alma feminina, que Sigmund Freud chamou de o continente desconhecido, talvez mais conhecidos pelos escritores que escrevem sobre a mulher desde Bocaccio, por que se Freud admitiu que Não há o que tenha escrito que um poeta não tenha dito antes, admito aqui que nós homens aprendemos muito sobre a mulher com contistas do quilate de Francisco Grijó, Ruben Fonseca, Sérgio Porto, entre outros.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 02/01/2021
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