Del MAESTRO, HUMBERT0. Betinho - o menino ardiloso -. Grafitusa SA. Vitória. ES. 2018.

Betinho - o menino ardiloso - do autor capixaba Humberto Del Maestro é um pequeno romance memorialista sobre a primeira infância. No qual a fantasia é com os anjos da guarda Amey e Ameya, capazes de provocar a premonição de que um passeio num monomotor poderia ser fatal, orientando o menino a não aceitar entrar num lugar no qual os pais o queriam levar ( Pág. 45). Betinho tem dois irmãos, um deles uma menina, e, além de ótimos papai e mamãe, é cuidado por uma ama, Joana, e orientado por uma pedagoga de nome complicado que não sabe lembrar. Falha rara no texto, porque adulto, Humberto Del Maestro lembra de tudo ocorrido na primeira infância. O livro é o relato de uma primeira infância protegida. Nele, o livro, há a pureza diante das coisas, reconhecida também pela ama que a certa altura diz que trabalhava "tomando conta de um anjinho"(Pág. 69). E é raro encontrar um livro que possa ser lido por crianças e adultos no qual a presença da alegria de viver ocorre fluidamente, mesmo nos primeiros anos de vida.

Em suas recomendações sobre como escrever para crianças, no pós-escrito de Crônicas de Nárnia, C.S. Lewis diz que a fantasia perigosa é superficialmente realista. Eventualmente, isso pode ser uma crítica aos que tentam trazer o naturalismo para os olhos do leitor impúbere ou púbere, mas, no livro em tela, a única situação perigosa ocorre quando os irmãos avisam para Betinho se esconder porque dois meteoros vão cair na terra, matando todo mundo. (Pág. 88). Isso leva o menino ao pânico, experimentação primeira do medo, sem que tenha sido efetiva maldade o ator dos irmãos logo esclarecidos pela pedagoga como uma mentirinha. Mas não é só o nome do menino que está no diminutivo. O diminutivos estão na nomeação dos objetos da casa, coisas, do primeiro cavalo em que monta ( um pônei), cujo nome é Branquinho.

A historinha de setenta e oito páginas nos remete aos primeiros cinco anos do autor, época de raras lembranças entre adultos. São raros os livros que nos falam da infância protegida. Entre eles recordo A glória de meu pai, baseado nas memórias do escritor francês Marcel Pagnol (1895 - 1984). O livro de Del Maestro é uma aula de cuidados de maternagem e de boa paternidade. Mesmo quando a mãe substituta é uma aia, Joana, que acompanha o menino além da sua primeira infância. O menino não frequentou creche, teve instrução domiciliar, nascido em 1980, o autor nos traz recordações de outras épocas, mesmo as anteriores em que nasceu. Há o convívio entre o rural e o urbano. Há a ama! A quase mãe, a mãe substituta ideal da mulher que trabalha fora como botânica, que se confunde com a pedagoga, a nos mostrar a formatação de uma imago materna extremamente doce, carinhosa e auspiciosa.

Um pequeno romance terno sobre os primeiros cinco anos de vida, época em que a criança tem muitas fragilidades, no qual os cuidados familiares são competentes e sinceros, comove profundamente quem o lê com os olhos humildes e contentes. Ainda mais quando o leitor resenhista é pediatra. Posso somar mais um pouco ao dizer ser Betinho - o menino ardiloso - uma aula sobre como escrever um bom livro para crianças de todas as idades. Ver menos

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Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 24/04/2023
Código do texto: T7771894
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