Coruja
É tarde demais, rente à avenida
O prédio dorme, olho por janela
Coruja numa árvore indevida,
Que tapa e tira o sol e amarela
De mofo a pintura da parede.
É sábia, a coruja é tranqüila.
Enquanto não me basto em minha sede,
Ela olha como bebo a tequila.
Isenta é como vê meu desconchavo,
É sábia e me sente indefeso,
É mãe que já não tenho ao meu lado.
Teimoso, bebo o último dos tragos,
Deitado olho mundo todo vesgo,
Feliz eu adormeço bem amado.
Nota: não sei para mãe de quem eu escrevi esse soneto, pois minha mãe é viva e sou etilista social. Quando escrevi o soneto Abstêmio, teve leitor que veio me dar parabéns por ter parado de beber, se lerem o conto Ethos, eros e tânatos verão que tenho baixo limiar de tolerância ao álcool. Obrigado.