Necrotério amoroso
Este pó, esta cinza, já foi fogo.
Mas manténs na lembrança algo cremado,
Acreditas que fênix ao teu rogo
Vá parir novamente alguém amado.
Esta sombra em teus olhos sem pinturas
É luxúria de carne aprisionada,
Traduz apenas fortes amarguras
De quem acha que a vida é tudo ou nada.
Esta morte carregas no semblante:
A máscara difícil de arrancar
Com as mãos que se deram ao amante.
Esta lembrança, rútila, suicida,
De carpir um amor que a porta tranca,
Em gris acabará na morgue frígida.