Soneto da infidelidade
Vejo as lívias aquáticas no lago
abrirem-se em flor pela manhã,
colho-as e sorrindo ao vaso trago,
vejo rosar no rosto uma maçã;
percebo-a mui triste e de perfil,
são ínvias as fronteiras entre nós,
para uma paixão não há refil,
fui infiel agora estou à sós.
Lá fora o dia é lindo, o amor nos chama,
há peixes a nadar sob as águas,
mas haverá vontade sob as mágoas
causadas, que trouxeram-nos o drama
de sermos simulacros do que fomos?
Descasco uma laranja, como os gomos.