CARNIÇA
As pessoas cansadas do próprio cansaço
paralisam seus olhos em frente ao palanque;
a mulher deixou roupa encardida no tanque,
seu José deixou gado esquecido no laço...
Corre sangue no morro e não há quem estanque;
na baixada festejam recente fracasso:
Acabou de falir uma indústria de aço,
mas abriu-se uma casa para bailes funk...
Tal platéia está cheia de gente sem rumo
começando a traçar a barganha do voto
por um trago de pinga, um pedaço de fumo...
No palanque os abutres repetem a "missa"
da falácia voraz de sentido remoto
para um povo que sempre serviu de carniça...