CARNIÇA

As pessoas cansadas do próprio cansaço

paralisam seus olhos em frente ao palanque;

a mulher deixou roupa encardida no tanque,

seu José deixou gado esquecido no laço...

Corre sangue no morro e não há quem estanque;

na baixada festejam recente fracasso:

Acabou de falir uma indústria de aço,

mas abriu-se uma casa para bailes funk...

Tal platéia está cheia de gente sem rumo

começando a traçar a barganha do voto

por um trago de pinga, um pedaço de fumo...

No palanque os abutres repetem a "missa"

da falácia voraz de sentido remoto

para um povo que sempre serviu de carniça...

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 05/08/2007
Reeditado em 27/08/2007
Código do texto: T593746
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.