Diálogo imaginário de Yara Khmidan com si mesma sobre Pepe – o urso de prepúcio do Boteco Sovaco das Estrelas


Agora o silêncio da mente atravessa
a noite lentamente, não há pesadelo,
nem há onda do mar em dorso de camelo
ou mesmo uma marola batendo a cabeça;
tudo é o momento vazio de quimeras
e se as mãos levanto e ainda escrevo
tenho em mãos quatro folhas de um trevo
e inevitáveis horas de sonhos, esperas
e pensamentos claros. Sim venci o Monstro
nos diz Yara Khmidan de vestido azul,
nenhuma emoção sinto ou demonstro.
Monstro do Lago Néscio nem era o Monstro,
nada mais me amedronto, ouço um blue:
bom conhecer o azul, bom conhecer o azul,
e o dorso do camelo agora é doce e cool
que assim é que se anda em dorso de camelo,
como se numa onda rumo norte ou sul,
ou norte à oeste onde nua em pelo
navego a leveza de um belo momento,
por ter traído Pepe há arrependimento,
mas o traí por medo de sua doce fúria,
mas se pudesse hoje ia ser sua guria,
pois sei que em mim nunca enfiou garras e unhas,
apesar dos meus erros cheios de testemunhas,
não foi sem-vergonhice meu cruel delito,
amei aquele cão como se fosse um homem,
mas Rintintim é desses que depois que comem
desaparecem dentro das piores lembranças.
E para sempre o quero desaparecido,
entre um vinho Bordeaux bebido ainda ontem
e a história que em futuro espero que contem
quando isso tudo for por mim já esquecido,
não sabia que o cão de tão bonita cama
que um dia me fez sentir o Tao no físico,
para depois jogar ácido em minha chama
e me fazer olhar para o romance tísico
que trouxe ao meu andar o mais triste ritmo
e a dor de abrir feridas em meu céu mais íntimo.
Não posso declarar que está tudo ótimo,
depois de Rintintim me senti uma puta,
de todo ser humano me senti o último,
porém hoje ninguém culpa me imputa
já fiz a travessia desse Lago Néscio
que o monstro ainda habita e sempre habitará,
mas deito e ponho ouvido em travesseiro macio,
e onde meu coração não está a deus dará,
já não escondo nada nem mostro mais tudo,
não careço defesa, não careço escudo,
Pepe me perdoou, eu não me perdoara,
meu rosto está vermelho c’ uma alegria cara
tudo custou uma fábula e é uma fábula,
nada em mim é mais dor, nem mais me encabula.
Felizmente em minha alma não há palavra chula,
em dorso de camelo sou a Odalisca,
que no deserto que há um novo rumo risca,
sem nunca mais querer ser coice de mula,
nem requerer de nada a semente ou muda
plantada em vazio que em mim não exista,
pois minha alma nunca foi coisa miúda;
e se pequei não creio em deus nos acuda,
vou conversar com deus ele vai dar ajuda,
e um dia essa dor não vai deixar mais pista.
Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 28/08/2018
Reeditado em 28/08/2018
Código do texto: T6432182
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