IMPRODUTIVOS
Ao ficarmos brincando de ser nossos
numa história que há muito se desfez,
como quem sem a carne rói os ossos,
faz de conta que a tem mais uma vez...
Burlaremos em nós todas as leis,
colheremos bagaços e destroços
nos divãs, nas milícias ou nas greis,
numa fuga enfadonha dos remorsos...
É que um dia, esgotado o nosso prazo,
tudo fica tão vago, insosso e raso
e não pode forjar qualquer motivo...
Depois resta o caminho da procura
do milagre, o fenômeno da cura,
qualquer outro caminho improdutivo...