Confissão súbita de Jeca Tatuado - candidato à presidência da república em 2018.

Não quero estar acima do que me traz risco
nem ser o bicho arisco, caipira e tolo,
nem entre o mar e a rocha ser só o marisco,
menos ainda ser homem que quer um colo

quando adulto não cabe à sós em sua cama,
após passar o dia em sua luta inglória
para ser mais do que é e mudar a história,
para ter outro enredo em seu próprio drama,

o outro tem razão, também tenho as minhas,
mas perco a razão c’ as razões sozinhas
só para que me sinta bom doce e cordato

somente em relação a mim e as boas carinhas
que para mim sorriam em coisas comezinhas
e ao outro trate sempre como o pior rato,

eventualmente em cuspe sobre o próprio prato
de uma mesa maior de negociação,
onde seja ouvida toda a opinião
mesmo a equivalente a perfume barato

diante dos meus ares de maior sabichão
estúpido e cruel com o adversário,
canalha e raivoso e atrabiliário
jogando o inimigo c’ a cara no chão,

como se fosse errado odiar a insegurança
venha de onde vier, do pobre ou do rico,
porque se rico sou só trato do meu bico,
e não dou a ninguém nenhuma esperança,

mas como sou político a maldição
está, sempre na classe média agora espremida
entre a pobreza corrompida e a roubalheira

que a grande burguesia mantém em ação,
conseguindo conchavo com quem quer que seja
que chegando ao poder sempre a inveja,

e quer mamar também batendo em classe média
que às vezes sai a rua em maior desespero
desrespeitada ou usada pela grande mídia
c’ o idealista a querer seu enterro

embora a ela pertença se não for do esquema
que é causa e consequência do nosso problema,
mas que não é enxergado pelo idealista

que quer o pobre bem seja a qualquer preço,
porque seu coração tem o maior apreço
sempre em fingir ser bom, querendo ser artista

com interpretação sempre mais que sublime,
mas que mostra os dentes se é contrariado,
e xinga e se possível quer que a raiva rime
com toda a sua razão de maior tresvariado,

enquanto o sol assim se tapa c’ a peneira
sem sonhar com governo que vença o momento
de quem só quer governo para um segmento,

extinguindo assim de toda a maneira
as classes sociais agora em tormento
porque só se governa para um segmento,

que morra a classe média inclusive este
representante dela embora ainda preste
depoimento honesto sobre a situação,

entre o canalha da direita e o da esquerda,
entre o maior ladrão e o seu pupilo,
entre os que os defendam por isso ou aquilo,
para que a bondade não acabe em perda

do coração cruel, do bom e do insensato,
pois só meu coração é bom o teu é fel,
porque só eu sou humano o resto é só rato,
mas quem pensar como eu merecerá o céu,

quem pensar diferente se possível eu mato,
não quero que acabem a minha ilusão,
de que só eu e os meus temos bom coração,

preciso ser cruel, pra que social contrato?
Que morra quem comigo queira discussão,
Só eu, só eu possuo um bom coração!
Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 21/09/2018
Código do texto: T6455829
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