Uma boa proposta para o fim da festa.

Houve um tempo em que a fúria quis traçar as linhas
que a cigana queria por em palmas das mãos,
tempo em que vi brigarem irmãos contra irmãos
à vezes mesmo aos tapas outras no entrelinhas

que o tempo apagou deixando só a página
de histórias cheias de ódios que destroem as histórias
ainda que alguns consigam cantar glórias
enquanto outros vivem a dor que alucina

e querem ir embora da fúria asinina
que revela a besta no momento hidrófobo
vomitando a água de rio caudaloso,

quando em si mesma cresce tudo que a extermina
e entrega o coração ao mais maligno lobo
para somente em morte ter o último gozo.

Tempo em que o amor era dito dengoso,
fraco e absurdo, triste e complicado,
tempo em que só a fúria mandava recado
fazendo todo jogo ser bem perigoso,

tempo em que em tambor batiam as costelas
até se fraturarem contra o couro insólito
da besta que causava dor de ver estrelas
sem dar direito à fala ou direito ao grito,

tempo em que o demagogo na fúria da cela
se fazia de deus conseguindo rebanho,
tempo em que ajoelho quando a flor apanho

com pétalas rasgadas, mas ainda assim bela,
tempo em que a bondade tem rosto estranho
de ser necessidade e não ser tamanho
de grandeza real em generosidade,
sem subtrair do outro o que o outro é,
sem destruir a música vinda do oboé,
sem ser o único dono de toda verdade,

tempo de se rasgarem todos os princípios
de ter unhas azuis e ter cabelo verde,
o piercing no nariz e os doces precipícios
de ter na cocaína o gozo em que se perde

o senso do que é gozo, o senso do que é êxtase,
toda percepção em prol do momentâneo
pressentimento eterno do eterno presente

em que mais que a história só importa a fase
sem perceber ser tanto a fraqueza em calcâneo
a dor que há no pé, quando anda e a sente
nalgum silêncio sábio que essa dor é insânia,

doente e depressiva em forma de mania,
só para então chutar quem cala e consente
que essa dor carece de muita denúncia,
embora seja dor que atinja muita gente,

quando a perfeição vira epidemia
e o sigma do nazismo mostra a cara limpa
na sua popularidade maior e supimpa

que esconde a morfeia sem nenhuma angústia;
à direita e à esquerda, ao leste e ao sul,
ao centro e ao oeste fingindo ser cool

na violência fria que se anuncia
ao golpe da degola ao qual se dá a oferta
enquanto a bandidagem vota na esquerda
que contra ela não quer nenhuma violência,

e a tem na relação sempre de causa e efeito
não dando importância a quem morra no asfalto
ou morra na calçada durante o assalto
porque o assalto é justo, o assalto é um direito

do pobre contra o rico ou contra o classe média,
não se importando se na luta alguém morra,
mesmo algum soldado que a todos socorra

porque soldado morto é parte da comédia,
soldado morto vale menos que cachorra
ou gato que esperto mais rápido corra

da fúria de bondade que sente o canalha
que tenta cortar águas com o sangue alheio,
pois olha quem discorda como fosse tralha
e derrama o leite até de belo seio

porque leite que preste só tem quem tem sangue
bom, o sangue das ideias iguais à minha,
sem qual a humanidade finge que caminha
sem saber que ao fim por mim estará exangue;

canalha após canalha, então, enfim, aposta,
que só minha bondade nunca é fascista,
que só sua bondade sempre é nazista,

e juro não me importa se ninguém mais gosta
agora sou direita e esquerda tudo é festa,
porque no fim de tudo é meu tudo que resta.
Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 02/10/2018
Código do texto: T6465534
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