Soneto da depiladora


No poço do desejo do sovaco tépido
o sol só tem alcance c’ o sovaco aberto,
sem precisar do sol sou raio de luz intrépido
porque de um bom sovaco sempre estou por perto,

sou navalha na carne quando o depilo,
sou a bela odalisca em dança c’ a espada,
realizo meu trabalho de modo tranquilo
e ao fim de uma sessão nunca sobra mais nada

de pelo em sovaco de uma beldade,
que fica bem mais bela, eis a realidade,
então peço à bela que levante o braço,

que a bela levanta quase em crueldade
só em mostrar beleza maior que a verdade,
fazendo propaganda do ofício que faço.

nota: na foto Shanina Shaik, ganhadora do Troféu Ovo Cozido, prêmio de revelação criado em 2018.