A CRIAÇÃO LITERÁRIA

Grato por me permitires tomar conhecimento do que percorre no teu formoso espírito. Também pelo viés que permite que se tome um caminho para a instigação. Sempre funciono como um provocador. A instigação é o meu forte. E fico esperando a síntese pensamental que o autor vai fazer após receber a análise crítica. Não conheço nenhum autor que tenha começado a escrever fora desse foco: a emoção derramada. Exceto os gênios, os quais já nascem prontos. E, estatisticamente, nasce um por idioma, em cada milênio de Humanidade. Curiosamente, estes, na sua ânsia de revelar o mundo, quase sempre se tornam tradutores das obras dos irmãos ‘condenados a pensar’ em outro idioma. Lambuzam-se nos rios de outras vertentes. Tomam cores noviças. São bons exemplos disto as versões feitas por Mario Quintana, Lia Luft, Érico Veríssimo, em nosso meio. O usual é escrever-se por compulsão, por necessidade de se comunicar, de passar aos outros o sentir pessoal. A esta fase eu chamo de “diletantismo”. Pertencem a esta fase 99,9% (noventa e nove vírgula nove por cento) das pessoas que escrevem. E na atualidade aproveitam a olada pra jogar na grande rede a sua obra. Assim serão vistos, lidos. Se o autor tem a auto-estima em alta conta, acaba por imaginar-se o grande mestre recém revelado. Esta é a regra dominante. Se ele convive bem com ‘o estar no mundo igual aos outros’, vai esperar o retorno que os leitores venham a lhe dar. Muito poucos pedem opinião aos que já têm alguma estrada, aqueles que já rolaram ao vento e à chuva, na estrada da criação literária. O comprometimento com a escrita começa quando o pretenso autor (de prosa ou poesia) começa a ler como necessidade e/ou ânsia de compartilhamento. Quem escreve assiduamente necessita ler os clássicos e os autores da moda. Também apreciar a obra de seus amigos escribas da net. Ler sempre e sempre. Viciar-se em leitura. Este é o dístico do compromisso para si e para com os de seu círculo intelectual. Do nada nascerá o nada... O solo fértil produzirá o maná da confraternidade. E isto nasce das ações coerentes para auxiliar os neurônios e capacitores cerebrais. Tudo começa com o enriquecimento do vocabulário e, consequentemente, com o viajar que a leitura propicia: o revelar-se dela. Começa-se a perceber os sentidos imanentes da escrita – O DENOTATIVO E O CONOTATIVO – que é o mais importante na escrituração, principalmente em Poesia. Nesse sentido conotativo, ocorrem as METÁFORAS POLIVALENTES ou profundas, enquanto no sentido denotativo, podem ser encontráveis METÁFORAS UNIVALENTES OU MONOVALENTES, que são aquelas em que se constata pouca sugestionalidade e transcendendência. Estas também são chamadas horizontais. No entanto, em todo o texto artístico (fora, portanto, da linguagem objetiva do lugar comum da vida) sempre serão encontradiças as figuras de estilo, especialmente a METÁFORA, A RAINHA DA LINGUAGEM. É esta que faz o texto “saltar aos olhos”, bonito, esteticamente apreciável, contendo aquele “estranhamento” que se pode observar na peça artística que contém o Novo, a Originalidade, e, por vezes, a fina ironia da Verdade que nem todos aceitam e/ou compreendem. Chegar-se a um razoável texto pejado de sentido conotativo é como se aportar a uma desconhecida esquina. Afinal, nunca se sabe o que nos espera após a ultrapassagem do ângulo reto...

– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2008/2012. – segundo texto.

http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/1584567