A CIRURGIA NO POEMA

É difícil abordar com profundidade o gênero Poesia com pessoa que tenha uma visão diletante – amadorística – do fazer poético. Para se chegar a um resultado apreciável, o que se tem de entender, inicialmente, é a dimensão do espírito humano e os seus diversos momentos na construção espiritual personalíssima. A este patamar se chega pelo estudo da filosofia e através da leitura de textos de autores consagrados, ou seja, aqueles que têm estrada percorrida e história pra contar. E que se tenha uma visão altruísta do mundo. Acaso esta inexistir, a Poesia não se manifestará. Portanto, em nada aproveita ao novato frequentar a qualquer “oficinação poética” antes dele se entregar a um comprometimento maior com a Poesia. Por esta razão, ao perceber as imperfeições estéticas de conteúdo e mensagem, o analista literário pouco deve interferir no texto de terceiro, mormente se ele for jovem. Somente o mínimo suficiente para funcionar como "instigação" à execução de “cirurgia”, nos versos. O que importa é fazer com que o iniciante – ele mesmo – faça a descoberta desta necessidade no processo de criação. Aquele que tem de “transpirar” a proposta poética – encontrar soluções criativas para o poema – é o seu autor. Porém, dificilmente o autor do poema vai “mexer” no produto textual de sua “inspiração”, sem o auxílio do analista crítico, que funciona como “provocador”. Para o novato, usualmente, o poema surgiu assim e deverá permanecer assim, virgem de alterações. Quase sempre a alta autoestima funciona contra o autor dos versos, embora este nunca claramente perceba, pois a catarse da “inspiração”, na qual tem nítido predomínio a emocionalidade, as mais das vezes exclui o necessário processo de autocrítica do criador. É tão forte o envolvimento criativo que este embasbaca o autor, na fase em que o poema “surge”, principalmente quando relata o emocional lírico-amoroso ou a injustiça social. À medida que o tempo passa, o autor vai se aperceber que só a genialidade nasce perfeita. Porém isto leva muito tempo, porque a sabedoria é fruto do talento e reflexão. Ela exige que pensemos sem pressa, mas com objetivos a atingir. A Estética é fruto de todas possíveis acuidades, enfim, de alguns conchavos entre emoção e razão.

MONCKS, Joaquim. DICAS SOBRE POESIA. Obra inédita em livro solo, 2009:10.

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