O GRAFITEIRO É UM POETA?

Na contemporaneidade lírica, resultante dos rituais sociológicos da MODERNIDADE LÍQUIDA, o poema é um desenho animado, quase uma garatuja ou silhueta, delineada com singelos traços gráficos. Como tal, possui rarefeito corpo verbal (com ou sem título/legenda) e que tem como objetivo sugestional criar no leitor o máximo de interpretações e, a par de sua apropriada singeleza, encantar ou alumbrar, e se possível, surtar o receptor. O poema da atualidade copia a economia de expressão verbal que ocorre na oralidade, principalmente entre os jovens. Aliás, o derramamento verbal nunca foi exemplar característico do gênero Poesia e, sim da Prosa, com sua específica prosódia e fenômenos de entoação. O recurso operacional, quando da criação da obra poética, é a utilização das figuras de linguagem, especialmente a metáfora: a subversão do sentido original da palavra, a qual passa adquirir um sentido conotativo, diverso do original dicionarizado. Ou, ainda, segundo a Wikipédia: “a metáfora é uma figura de linguagem que produz sentidos figurados por meio de comparações implícitas. Ela pode dar um duplo sentido à frase.”. Essas metáforas podem estar subjacentes ou supervenientes ao poema, pelo entremeado das ideias e geralmente leva a uma nova imagética (aquilo que se consegue exprimir através de imagens) criada para funcionar naquele momento estético como matéria prima de nossos pensamentos. Tudo concatenado para dar bonomia e empatia ao conjunto verbal. Ou seja, um “convite de boas vindas” ao mundo de verdades e belezas momentâneas de seu autor. É óbvio que conta com a expressa digitalização do punho autoral, até mesmo na chamada “poesia visual”. Se não, o conceito de arte restaria negado...

– Do livro OFICINA DO VERSO, vol.02; 2011/17.

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