SENSAÇÕES ESTÉTICAS

No Brasil, desde a Semana da Arte Moderna de 1922, rompeu-se com a forma de apresentação das peças poéticas. O movimento modernista representou a fixação da Novidade, característica do momento mudancista que a sociedade mundial vivia, a partir da Europa, logo no início do séc. XX, e efetivamente fixado no pós-guerra de 1914-18. A arte libertava-se de algemas. Pelos adeptos das novas fórmulas do poetar, o soneto – modelo clássico predominante desde Francesco Petrarca, no séc. XIV – era referido como a “camisa de força da Poesia”. De forma combativa, os modernistas contestavam um padrão de arte considerado estagnado e estéril, principalmente a poética contida no soneto parnasiano. Pretendiam os revoltosos do batalhão das Letras retirar o invólucro aprisionador da inquietude neuronal do criador poético, propiciando absoluta liberdade para a criação, nos versos. Entre outras inovações literárias, o modernismo trouxe o nacionalismo sob uma visão crítica da história; a pesquisa e o experimentalismo de novas estéticas – sem modelos rígidos. Pelo prisma modernista a arte poética descola-se da contagem silábica e das rimas, todavia – altaneiro e vivificador – permanece o RITMO dando a letra. No modernismo, a preponderância não é a da forma ou formato, e, sim, o andamento rítmico agradável ao ouvido, entremeado de figuras de linguagem, principalmente as metáforas e as metonímias, sugerindo – altissonante – a exploração do sentido CONOTATIVO dos vocábulos e dos versos, o que virá a produzir no receptor inusitadas sensações estéticas: a ESTRANHEZA E O ALUMBRAMENTO – como dizia Manuel Bandeira (1886/1968), o pernambucano que zanzou pela velha e admirou a todos ao transitar com desenvoltura pelos caminhos da nova escola. Vejam o que ele conseguiu fazer, em versos, acerca do que acabamos de expor. Em “Libertinagem”, publicado em 1930, nos versos de “POÉTICA:

Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente

protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário

o cunho vernáculo de um vocábulo

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais

Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção

Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

...

– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.”

No entanto, o espírito humano é insatisfeito, rebelde por natureza, e está sempre buscando novidades. É na eterna arte da Palavra que ele junta tijolos para a construção de sua casa atemporal. E desta caminha-se para todos os Futuros.

– Do livro NO VENTRE DA PALAVRA, 2011.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3157954