MUNDO REAL E ARTE POÉTICA

Quanto a Mario Quintana – o mestre gaúcho em Poética da contemporaneidade – é, sem dúvida, ótima companhia para os neurônios. No entanto, pode-se perceber que eu abordo a sua obra em muito de meus escritos, manifestando o pensamento de que ele e Manuel Bandeira foram dois ícones da literatura nacional que deram dignidade à PROSA POÉTICA. Elevaram-na aos meandros da dignificação poética, graças à metaforização, à bonomia do humor, e à inusitada ironia, a ponto de termos – na atualidade – três GÊNEROS LITERÁRIOS: a PROSA; a POESIA e a PROSA POÉTICA, que é um gênero híbrido recentemente consagrado, tanto nos compêndios impressos como nos bons redutos da Grande Rede. Até a década de 50 do séc. XX tínhamos, no Brasil, apenas a tradicional dicotomia entre a PROSA e a POESIA como gêneros literários. E a novidade, em teoria literária, nada mais nada menos alargou o campo da Poética, consagrando o que a Poesia americana de Ezra Pound, T. S. Eliot, Walt Whitman e alguns outros europeus conhecidos (franceses, alemães e austro-húngaros) já haviam feito surgir em suas criações: O PROSAÍSMO EM POESIA. A crítica luso-brasileira aceitou bem e bateu palmas. Os docentes também. Parece indiscutível que, no atual momento, urge consagrar os novos conceitos formais de apresentação de textos e de classificações no gênero poético, fugindo do estrito conceitualismo formal clássico dualista. É o consequencial histórico do Movimento Modernista, com suas belas e oportunas ousadias. Vejo- sempre como “movimento para chegar a algo”, não o concebo como Escola consolidada, e sim uma coerência histórica das manifestações artísticas frente ao caos do mundo atual: o nítido e implacável confronto entre o MUNDO REAL e a ARTE POÉTICA. E esse caos contemporâneo nos confunde pela dureza e pela pressa com que acachapa o mundo expectante dos sonhos e da beleza poética... É só olhar para trás e ver que os dias atuais ainda têm as mesmas vinte e quatro horas, todavia o andamento das ocorrências quotidianas é muito diferente do que tínhamos no séc. XX. É inusitado o momento em que olhamos o sobrevir dos dias com a visão dócil da Poesia. Porém, o espírito do Homem, no século XXI, ainda é o mesmo. Resistiremos!

– Do livro NO VENTRE DA PALAVRA, 2011.

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