O MANJAR ESTÉTICO

Recebo o texto, com a alegria e o prazer que a compulsão pela Poesia, como gênero, e o poema como materialidade da poética, me propõem. Vamos, de plano, ao estudo analítico:

“BARCAÇA NO MAR

Cléo Anselmo

Nesta barcaça grande e sólida

feita de madeira, criação de Deus,

embarquei à busca de um navio, a fim

de te encontrar e poder descarregar

todo este amor, que em meu peito

guardei em silêncio.

Meu coração, já não suportando

mais, começou uma barcarola,

por está em alto mar em

calorosa solidão.

Uma linda canção romântica

dos gondoleiros de Veneza

comecei a entoar,

acompanhada de uma linda peça

instrumental cujo ritmo sugere

as ondas do balanço do mar.

Conto minutos neste infinito

azul do mar, para encontrar,

Tão esperada navegação.

Então, navegaremos juntos

com grande, somada emoção.”

Enviado ao RL por Cleonídia em 14/11/2011.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/3335203

Código do texto: T3335203

– remetido via Orkut, em 14/11/2011, 13h29min.

Cléo, amada confreira! Que sejas muito bem-vinda ao meu rol de amigos tão específicos e preciosos, pois quase todos são bons leitores, e alguns se atrevem ousadamente ao verso e à prosa (como é o meu caso), já que muito me agrada a fruição estética. Esta peça é um bom exemplar da modalidade Prosa Poética, não chegando à especificidade literária POESIA devido à rarefação de figuras de linguagem e a inexistência de verbos com maior significância poética. Também o andamento rítmico (arrastado) denuncia a precariedade de linguagem poética, já que poesia é fluência rítmica. E, sem estes indicadores da linguagem em sentido CONOTATIVO, não há a se falar no gênero poético, mesmo que haja doçura na mensagem. Para começar, Poesia é composta por versos, já a Prosa se apresenta em frases que ocupam margem a margem, formando parágrafos... Imagino que desejarias que o texto se ajustasse à categoria literária POESIA, visto estar apresentado em versos e não em formato prosaico... Todavia, esta é a tônica maior dos escribas que publicam na net, notadamente autores novatos: exercitam-se na escrita sem ainda nada saber sobre teoria literária, ficando apenas no derramamento da intuição... E é precisamente com esta e com alguma técnica que se poderá chegar ao bom poema... INSPIRAÇÃO, num primeiro momento de criação; TRANSPIRAÇÃO, num segundo instante, o qual pode ocorrer no mesmo dia da criação, semanas, meses ou anos, é óbvio, depois do criador poético ter adquirido alguma prática e liberado o seu subjetivismo – normalmente traduzido no uso do pronome possessivo MEU – entregando-se à confraternidade, à partilha dos valores que a Poesia traduz enquanto verdade e amor à espécie humana. O bom autor tem de abrir uma “janela” para o receptor. E esta se dá pela impessoalização do texto... Por certo teremos muitas oportunidades para falar sobre nossa cachaça brava: a textualidade estético-literária. Exerço a crítica literária como sequela escrita de meu penoso ofício de escriba... Aprendo muito com os textos de terceiros. Gosto muito de meus irmãos poetas e prosadores. Hoje em dia, aos sessenta e cinco anos e trinta e sete de experimentações na arte escritural, a confraternidade é o melhor elemento de gozo e prazer sensorial e intelectual. Amo-os a todos, independente de seu aprimoramento técnico. Recebo-te nesse cadinho de emocionalidade e razão, onde cozinham os apetitosos manjares estéticos. Porque Palavra “é pra comer”... Espero que me recebas de coração aberto e com a mesa posta...

– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2009/12.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3336473