O COCHICHO DA POSSESSÃO

Chegam os versos sem pedir licença, e me deleito com a fixação no poema. Alertemo-nos:

“Ah! Se eu pudesse, por um minuto breve,

Ao pé do teu ouvido, sussurrar de leve...

Palavras que nunca foram ditas,

e nem por mim relatadas ou escritas.”

Valquíria Cordeiro.

– remetido pelo Orkut, em 15/11/2011.

Val, poetamiga! O texto acima, recentemente remetido pelo Orkut, é bom para uma razoável reflexão lírica. Uma pena que muito pessoalizado... Experimenta retirar a subjetividade, a expressão "por mim", que é conjunto verbal denunciador da possessão sobre o ser amado, cochicho delator da possessividade amorosa. Com a supressão, obterás uma proposta muito mais aberta, mais poética, muito mais expressiva de confraternidade, que é a proposta da Poesia como elemento estético e de humanismo... Tal como está se minimiza – se apequena – porque se resume somente a um "RECADO DE AMOR", como é usual ocorrer na voz feminina nos redutos internéticos, ao pretender fazer versos com a presença de linguagem em sentido conotativo, vale dizer, em Poesia... Não somos nós que revelamos a Poesia, ela tem esse condão por seu próprio alumbramento... Somos nós, as criaturas estranhas a esse mundo mágico criacional, porém nossa memória e a divulgação do poema é que pereniza ou detrata o objeto artístico. Perdão por me intrometer no juízo de forma do teu texto, todavia este é o meu ofício: buscar as razões desse encantamento, para que o brilho ofusque a menina dos olhos... Enquanto isso, concomitantemente, o “estranhamento” inerente ao texto mexe com os nossos sentidos e nos permite a viagem na carona dos bons conteúdo e forma. A originalidade do escrito está no Novo que ele apresenta ou representa. Mesmo que seja somente um dos vagões desse trem das novidades... E as figurinhas e silhuetas não têm nenhuma função, a não ser a de trazer a figura humana para dentro da proposta. Novamente a possessão se delata. Pobre de nossos afetos: sempre sofrem o aprisionamento de nossa humana condição... O bom poema vale por si, mesmo sem as costumeiras figurinhas nos sites da net, tão ao gosto do público feminino... Todo leitor quer que o que lhe agrade seja SEU... E assim se perfaz a vontade de quem ama o lirismo de se saber vivo e capaz para amar o outro... O poetar dá-se dentro dos estritos domínios dos vocábulos. E nada mais é necessário para o poema e seus fetiches...

– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2009/12.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3340361