POESIA NÃO É ENIGMA

Após uma visita a minha página no Recanto das Letras – na qual o visitante deixou aprazível comentário – atendo ao pedido de leitura. Escolho, aleatoriamente, o texto (de um universo de somente quatro poemas) e retribuo, com alegria, na expectativa da fruição intensamente prazerosa:

LÚDICO PSICODÉLICO SURREAL... UMA ALQUIMIA DA IMAGINAÇÃO... (AMOSTRA DO VOL. I)

http://www.recantodasletras.com.br/poesiastranscendentais/3108558

Enviado por Giuliano Fratin e Mosiah Schaule em 21/07/2011.

Código do texto: T3108558.

(Estou impossibilitado de inserir o texto ou excertos dele, porque o autor impede a cópia)

Realmente, estamos frente a um bom exemplar de poesia surrealista que, no entanto, não me parece chegar à TRANSCENDENTALIDADE (como o autor classificou a obra), visto que esta característica do fenômeno poético conduz à fixação da sugestionalidade. E esta aparece, na peça em exame, muito difusa, dispersiva, em nada aproveitando – lucidamente – ao receptor, na formação de imagem(s) que possa(m) ser vislumbrada(s) fora do contextual específico em cada inserção verbal, vocabular ou semântica, no verso ou na estrofe. Os eventuais efeitos plásticos e semânticos são muito pouco aproveitados, devido à desconjunção dos versos e seus conteúdos soltos, o que acaba por eliminar ou minimizar a possível transcendência... Utilizam-se os heterônimos, para, a exemplo do Poeta da Raça, Fernando Pessoa, individuar os alter egos, porém, o autor escrevente não logra o intento, porque a proposta poética está muito codificada, criptografada. O hermetismo, em Poesia, não pode ser confundido com ENIGMA... No entanto, apresenta-se, neste reduto internético destinada a escribas como um apreciável exemplar experimental do NOVO. A mim, que sempre busco a novidade, é de registrar que é essencial o INUSITADO em todo e qualquer espécime poético. Sem a presença deste, não há como se esperar do receptor a ESTRANHEZA e o ENCANTAMENTO ou ALUMBRAMENTO, plasmados e trazidos a lume por Mario Quintana e Manuel Bandeira, na literatura nacional. E isto é incomum aqui (no Recanto das Letras) e, em regra, na Poesia de todos os recantos do Brasil, e, talvez, do mundo. Digo isso porque somente leio em português e espanhol, tendo muita dificuldade em francês e inglês, portanto, sem leitura direta, e dependendo de versões do poema, para tentar compreendê-lo. Desta sorte, perde-se a ótica cognitiva autêntica, não sendo, para mim, possível avaliar e identificar a originalidade. No entanto, pelo discurso enigmático pleno de tentativas metaforizantes, de pronto me vem à memória a poesia agônica, discursiva e verborrágica de Gregory Corso, em “LADY VESTAL e GASOLINA”, de 1958, e, também Allen Guinsberg (ambos da geração beat), em suas psicodélicas viagens no mundo da realidade, não somente no nomadismo psicológico, especialmente em seu livro “UIVO”, publicado em 1955, que vendeu mais de um milhão de exemplares. Com isto o sucesso editorial premiava o confessionalismo jogado à rua, a excrescência crítica do “american way of life” e o realismo de um mundo em mudança, no início da década de 60. Bem, voltemos à peça “Lúdico Psicodélico Surreal...” e suas seqüelas, a fim de não perder o fio, incidindo no mesmo erro das várias abordagens desconexas do poema... Criador de dois heterônimos (Fratin e Schaule), o autor real da peça – tendo por norte as diversas facetas psíquicas em Fernando Pessoa, a partir de 1919 – assumiu e nominou suas próprias, por ora semi-heteronímias, já que não consolidadas por obras... Trata-se de um experimentador bastante jovem e, no tempo, acaso persevere na escrita, poderá consolidar a sua inusitada vertente criacional. Parabéns pela reiterada busca do NOVO, em Poesia. No meio de tanta mediocridade, em livros impressos e na Grande Rede, esta constatação é confortadora...

– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2011.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3351141