EM DETRIMENTO DA POESIA

Acabo de localizar, em tua página do Recanto, em http://www.recantodasletras.com.br/poesias/3337512, o texto "Ah!", qualificado na modalidade "Poesia". Eu já me apercebera (quando examinei o texto que me chegara aos olhos pelo Orkut, geminado a uma ilustração) que se tratava de um quarteto silabado e rimado, forma clássica, portanto. Porém, não tinha notícia de que eu estava a fazer um estudo crítico sobre os primeiros quatro versos de um soneto. Tu a havias publicado como obra autônoma (apenas quatro versos, um quarteto) diversa da unidade sonetística tradicional – a dos quatorze versos. Mesmo assim, continua a valer a observação sobre a necessidade de impessoalizar, de des/subjetivar o texto para chegar à POESIA como gênero literário. Alguns versos não contém Poesia, ou, nestes, ela é muito rarefeita... Trata-se de pretensos versos tendentes ao gênero, apenas um conjunto de vocábulos obedecendo a alguma técnica de construção da espécie poética focada... Isso ocorre até mesmo nos espécimes apresentados: formas fixas, como o SONETO. Nesta espécie do gênero Poesia, alguns autores fazem concessões à FORMA TEXTUAL – obedecendo rigidamente às suas regras peculiares – em detrimento do conteúdo poético... E não são poucos os que assim agem na poesia silabada e rimada, principalmente na sonetística. É tarefa que admiro e respeito muito, apesar de ser um inveterado modernista. Enfim, sou adepto do poema da contemporaneidade, o qual, de há muito, fugiu à camisa de força da Poesia: contagem silábica, rimações, etc. No acróstico, no haicai, na quadra, na trova, no soneto, por suas exigências formais, se torna ainda mais difícil poetizar, poetar ou versejar com Poesia. Fazer versos obedecendo às formas clássicas não é tarefa fácil... Alguns aficionados das velhas fórmulas esquecem que a mensagem a passar – o conteúdo poético – é muito mais importante que o arcabouço em que se deitam os vocábulos...

– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2009/12.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3355047