A VOZ DA LIBERDADE

“Poeta, não é somente o que escreve. É aquele que sente a poesia, se extasia sensível ao achado de uma rima à autenticidade de um verso.

Cora Coralina.”

O poema, que é a materialidade contemporânea do gênero literário Poesia, não é somente dos domínios de seu autor, e sim, deste e para o receptor, que nunca se sabe quem é, pois é um destinatário inominado. Enquanto a Poesia escolhe o autor para ser o seu porta-voz, é o leitor que escolhe a peça poética, por viciado em humanidade e beleza. O texto poético se destina à fruição e ao encantamento, e deve "pegar" esteticamente os leitores que o fruem. A isto chamo de "confraternidade", à qual se pode chegar através do exercício da "universalidade", que é o fenômeno da comunicação poética que atinge a todos, indistintamente. A "autenticidade de um verso", como diz Cora Coralina, também não é possessão exclusiva do autor do verso, e, sim, de quem o decodifica. E, de novo, temos o foco na figura do leitor. Porque o poema é de todos, e, ao mesmo tempo, de ninguém, como toda a arte que se preza. O que vale é a densidade humana do dito e absorvido. A Poesia é nada sem o seu receptor. É um bem que satisfaz basicamente a necessidades primárias de amor a si e ao semelhante. Não há socialismo mais aclarado do que o que ocorre na Poesia. Nela, tudo é socializante, coletivo. O poema é a voz da liberdade trazida ao mundo por um agente libertário, à revelia do todo. Por vezes miserável no plano material – sem eira nem beira – e que usa o único bem que lhe está disponível, o balbuciar da Palavra pedindo atenção. Gume e flor à disposição dos amores que a tomam...

– Do livro QUINTAIS DO MISTÉRIO, 2012.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3971075