O POEMA DA VIRTUALIDADE

Parece que no poema internético há uma questão pontual e que se torna histórica num país que hoje está descobrindo fortemente a leitura. Com este fato novo, aumentou a comunicação e quase todos desejam vir a ser POETAS – nem pensar ser classificado como PROSADOR! E fazem da arte poética a sua verbalização, muitas vezes esquecendo de que Poesia é linguagem codificada, metafórica. No entanto, desde a década de 50/80 do séc. XX – dentre os vanguardistas – a Poética já se consagrara como simbólica da economia verbal e de ganho de tempo na comunicação interpessoal lírico-amorosa ou no verso-denúncia dos tempos da ditadura militar, exigindo o exercício da liberdade de dizer. A Poética, com o fascínio do texto curto, sintético, se presta à linguagem da virtualidade. A nova linguagem serviu como uma luva para o navegante virtual e daí o internetês da década de 90, que logo se tornou o palavrório preferido dos jovens e, em geral, dos usuários da net. No entanto, a maioria dos pretensos praticantes da poética, na grande rede, fica na "inspiração", não deixando decantar a linguagem intuitiva, e nem vêm a fazer o segundo momento criacional, que é a "transpiração"; momento esse em que se dá a forma e o formato definitivo à instância poética, agora já com a predominância da intelecção sobre o primeiro momento emocional. Para a maciça densidade dos usuários da net, toda a comunicação se faz em versos, como se tudo fosse Poesia... Como se não mais houvesse as frases, os parágrafos, os períodos verbais em linguagem cursiva... É de se perguntar: e esses versos da contemporaneidade internáutica contém realmente Poesia?

– Do livro QUINTAIS DO MISTÉRIO, 2012.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3998047