O OBJETO E O ABJETO

Muito bem posto, muito denso de humanidade, o texto “D. HELDER E A POBREZA ABJETA” (T3128565), de autoria de Fernando Jorge, em http://www.recantodasletras.com.br/poesiastranscendentais/3128565 .

Aliás, falar em Dom Hélder (a quem não tive a alegria de conhecer ou saber profundamente de seus sermões) é falar em Confraternidade. A mesma que deve prover da verdadeira Poesia. Porque esta é a plenitude do sentimento amoroso do humano – em sua entrega ao Outro – mesmo que o objeto ou o conteúdo com que o poeta o traga à tona seja até abjeto, capaz de provocar indignação ou repulsa. Tem-se a Poesia como algo doce, porém, por vezes, ela não é flor, é dardo, gume capaz de decepar absurdidades... Tudo que não seja para a felicidade da criatura humana não é de sua destinação. Cristo e o seu sofrimento, nos mistérios dolorosos, é a representação do que o Amor pode e deve: a absolvição pelo sofrer dolorido até no corpo. E mais: por amor ao Próximo... Pena que, especialmente no lírico-amoroso, o feminino veja o Amar como possessão, em regra... O poema “O BICHO”, do pernambucano Manuel Bandeira, ao retratar a miséria humana, tem o mesmo sentir de Dom Helder: proscrever o abjeto. No entanto, indo a fundo, o texto merece um reparo quanto à classificação. Entendo que não se o pode classificar como POESIA, segundo os critérios técnicos da Poética: falta codificação de linguagem, e o sentido em que está lavrado o texto é o denotativo, excessivamente derramado, quando o que identifica a POESIA é o sentido CONOTATIVO, assentado especialmente nas metáforas e metonímias, o que lhe dá a codificação pela palavra contida, individuada e imagética. Sem a utilização desta – verbalização que se caracteriza pela linguagem figurada – não há a falar em Poesia no poema, na contemporaneidade formal, ou nas formas clássicas, as quais são a sua materialização, através da palavra escrita. O que aqui temos, em termos de CLASSIFICAÇÃO – segundo os critérios do Recanto das Letras – é PROSA POÉTICA, mesmo que esteja apresentada, aparentemente, em VERSOS. E a apresentação correta seria em frases, margem a margem, linha a linha. Resta, por fim, cumprimentar o autor pela bela reflexão proposta.

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4219672