PALAVRA VIVA E SUAS VESTIMENTAS

Prezado leitor! Constato, invariavelmente, o vício original de “querer escrever somente Poesia”, existente na cabeça da maioria dos exercitadores da palavra, especialmente os escribas agregados a associações literárias. E a afirmação vale para toda a América Latina, nos idiomas português e espanhol. No entanto, nem sempre o tema ou assunto se presta para uma construção em POESIA, de modo a que se possa chegar a um razoável POEMA, ainda mais quando o assunto ou a temática em discussão é temporal e necessita de explicativos (como, que) e condicionais (caso, acaso, se). Por que o autor teima em escrever em versos o que é prosaico, portanto natural e correto que seja exposto em frases, em linguagem direta? No entanto, com a Poesia não é assim: não basta a palavra jogada nos versos. O aspecto formal não substitui a proposta de fundo, que é justamente o manancial poético e a genialidade que a forma materializa. Por que faço estas ilações? Simples: o que temos normalmente é o desconhecimento dos preceitos de técnica poética ou os referentes aos escaninhos da narrativa. Enfim e ao cabo, não sabe o criador as entranhas de seu ofício. Tenta-se – as mais das vezes – apresentar como exemplar de Poética o que não é representativo desta categoria literária. Que tal reescrever o texto como deveria ser, com um mínimo de conhecimento dos preceitos técnicos de cada modalidade? Caso o texto esteja apresentado em abordagem prosaica, vale dizer, com poucas figuras de linguagem, especialmente as METÁFORAS, constata-se o gênero PROSA. Nesta hipótese, deve-se apresentá-lo (quanto à forma) em frases, ou seja, lavradas de margem a margem, como todo o assunto verbal que não apresenta codificação mais profunda ou hermética. Creio que com este agir o autor chamará atenção para a sua criação e ocorrerá que a sua produção será consumida com maior prazer e gozo. Peço que não me entendas mal: aplico apenas algumas objeções analíticas aqui meramente expostas, longe de esgotar o elenco. O ingênuo intento é o de retribuir e concelebrar a nossa humana condição de pensadores. Nada além...

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2013/14.

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