INDIVIDUALIDADES

– Ref. ao texto SERVENTIA DO SOFRIMENTO, em http://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/4901615

O sofrimento é a matéria-prima de tudo. É de somatizadas diatribes que se compõe o cadinho das inquietações e possíveis enfermidades, em todos os tempos, como apontava Goëthe, no seu “Os sofrimentos do jovem Werther”, em 1774. É essa sensação de sofrência, de solidão no viver e o sublimar das angústias – as mais das vezes – quem perfaz os meus neurônios, e humildemente imagino que o receptor possa tirar dos relatos sobre este obscuro andar no mundo alguma utilidade ou gozo. Mais do que qualquer efeito, esse lúdico exercício com os signos vai traduzindo o escritor. Este talvez seja um momento em que tenho pouco a dar como autor, mas, no íntimo de meus alter egos a rosa vai se abrindo à luz. E como o instante da criação pode ser brilhante ou tempestuoso, os olhos que me aclaram nem sempre estão com a mesma ótica. E percebo que o não revelado ou o que sai inerte das entrelinhas, é o que mais se reproduz no esforço de entendimento pelo receptor. O reproduzir-se ou não da proposta textual naturalmente depende de quem a recebe. Nem sempre o alter ego traduzido pelo criador se conecta bem com o leitor. Afinal, este é o mistério da comunicação, aquela ideia que nasce se debatendo por meio das palavras no desabrochar – atônita – no mundo real. Um parto doloroso no qual nem sempre o nascituro conseguirá vir à luz individuado.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4908522