CRIAÇÃO A DOIS

Cada pessoa vê o mundo em que vive de uma forma diferenciada, formando-se assim a sua concepção estética individual. E é por ela que se perfaz o POEMA. Este vem à tona – ao mundo dos fatos (criados) a partir dos neurônios do criador literário – rico em metáforas polivalentes ou raso, vale dizer, em estrita monovalência de linguagem e sentidos. Haverá, pela proposta poética, versos com acessibilidade a cada poeta-leitor. Todavia, sem a existência deste (e o seu ato de leitura), o poema é matéria inerte: não produzirá seus peculiares efeitos plástico-sensoriais. A conexão estética – do Belo e suas impressões – ocorrerá ou não a partir do universo receptor. Cada poeta lança a sua seta amorosa – porque o poema é sempre um ato de amor à distância – a um determinado universo de receptores. Esta historieta lírica de que o poema vai ao coração do leitor é mera visão diletante e simbólica... Tal somente ocorrerá de fato nas cartas ou mensagens de amor, que têm destinatário certo, e não através do instrumento poético. No entanto, toda pessoa é pretensa destinatária dos versos com Poesia. O leitor é quem faz ou não a sua entrega emotiva ao poema. Nos domínios do lírico-amoroso, ocorre um conúbio lascivo e sem testemunhas. E é o alter ego falante (dentro do poeta) que, através da conexão, ganhará o leitor. Esta ocorrência também poderá se dar na narrativa artística.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/5004399