A CONCEPÇÃO DO POEMA

A origem intimista de qualquer POEMA é emocional, quando do primeiro momento – o da INSPIRAÇÃO. Depois, num segundo momento – o da TRANSPIRAÇÃO, o autor terá de fixar a forma do poema, examinando, revendo o embrião original e tornando-o definitivo enquanto titulação, versos, formato, a partir da codificação linguística que conduz a uma proposta de sugestão na cabeça do eventual leitor. Neste novo instante criacional, a preocupação maior é a revisão – em que ocorre a prevalência da intelecção – e transparece, finalmente, na concreção da expressão verbal como peça estética. Então, para mim, o POEMA é fruto da emoção e da razão – um fruto híbrido, portanto. É bem verdade que a maioria dos poetas iniciantes não conseguem chegar além do sopro original instintivo e empacam no formato que a INSPIRAÇÃO lhes intuiu. Com este procedimento, perdem a oportunidade de atingir – na maioria das vezes – uma melhor perfeição estética, especialmente na parte final da peça poética, que necessita o denominado “fecho-de-ouro”, expressão criada pelos sonetistas clássicos. Nesta finalização da peça, o poema cresce em seu tônus, ganha corpo e densidade. Em verdade – como em qualquer discurso – cada poema possui introdução, desenvolvimento e fecho. O que faz diferente a peça poética é a sua codificação verbal e estética, que produz a sugestão, estranhamento e beleza, e que seduz o receptor. Só a voz do Mistério produz a grande poesia. É a palavra em seu vestido de festa...

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014/15.

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