Há cem anos...

                              Só quem ama pode ter                               ouvido capaz de ouvir
                              e entender estrelas.
                                        Olavo Bilac


     1. No dia 28 de dezembro de 1918, há cem anos, portanto, morria, na cidade do Rio de Janeiro, Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac. Bilac é um dos meus poetas preferidos. Como ele, também gosto de "ouvir estrelas" e de falar com elas... parecendo um "abestado". 
     
2. Carioca da gema, o poeta de "Via Láctea" nasceu no dia 16 de dezembro de 1865. Seus pais: Delfina Belmira Gomes de Paula e Brás Martins dos Guimarães Bilac, um pai ranheta, ranzinza. Chegou a expulsar o filho de casa porque não aceitava a sua vida boêmia. 
     
3. Considerado o melhor representante dos poetas parnasianos, Bilac deixou-nos belíssimas rimas e um sem-número de crônicas e divertidos textos "sob o disfarce de mais de cinquenta pseudônimos".
     
4. Na Academia Brasileira de Letras, que ajudou a fundar com a decisiva participação de Machado de Assis, Bilac ocupou a cadeira número 15. Foi figura proeminente no respeitável sodalício.
     
5. Destacou-se como defensor intransigente do serviço militar obrigatório, tornando-se, por isso, seu patrono.
     
6. Fez a letra do "Hino à Bandeira". Nas escolas de antigamente, a meninada sabia de cor e cantava com orgulho: "Salve, lindo pendão da esperança!/ Salve, símbolo augusto da paz!/ Tua nobre presença à lembrança/ A grandeza da pátria nos traz".
     
7. Não casou! Mas teve uma noiva, a poetisa Amélia Mariano de Oliveira (1868-1945), que se diz ter sido seu eterno amor.
     A ela Bilac dedicou lindos versos e os publicou. Mas - pasmem! - não admitia que Amélia publicasse seu próprios poemas. Certa feita, chegou a censurá-la por tê-lo feito. 
     
8. É sobejamente conhecida a sua carta endereçada a Amélia, em 7 de fevereiro de 1888, após sua amada publicar um de seus sonetos no Almanaque da Gazeta de Notícias.
     
9. Nessa missiva, disse Bilac: "...desagradou-me a sua publicação".  Mais adiante: "Há uma frase de Ramalho Ortigão, que é uma das maiores verdades que tenho lido: "O primeiro dever de uma mulher honesta é não ser conhecida".
     
10. Eu, aqui, pergunto: que diria o poeta Bilac se vivesse nos tempos de Rachel de Queiroz, Cecília Meireles, Clarisse Lispector, Lia Luft, Ana Miranda, Martha Medeiros, e de outras escritoras de reluzentes textos.
     
11. Segundo o cronista Humberto de Campos, Bilac (como eu) tinha pavor da morte.
     Disse o autor de "Sombras que sofrem" que, "em palestra íntima", Bilac falou-lhe de sua velhice; e que notara na sua palavra "o pavor invencível do túmulo, da aproximação soturna do 'fim'. Resultado, talvez, do celibato..." E o poeta só tinha 53 anos de idade.
     
12. Sua morte. O que disse um de seus biógrafos, o escritor Fernando Jorge: "Na fosca e chuvosa madrugada de 28 de dezembro de 1918, Olavo se acomoda na poltrona e diz às pessoas que o rodeiam: - "Já está amanhecendo...deem-me café, papel e pena... eu vou escrever...". Apoiando a pena sobre o papel, inclina a cabeça e exala o último alento..." Aconteceu há cem anos!
     
13. Para concluir, digo como o cáustico, o implacável Agrippino Grieco retratou Bilac: "Feio, de uma fealdade por assim dizer fascinante, impressionava homens e mulheres.  Era estrábico e meio prognata, mas que inteligência, que distinção, que graça em tudo isso! Dizendo versos, encantava..."
     
14. Lembremo-nos sempre de nossos vates. No seu centenário, é o tempo de lembrar o poeta que conversava com as estrelas: Olavo Bilac.
 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 22/12/2018
Reeditado em 23/12/2018
Código do texto: T6533115
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