T R O V A S (9)

Se um dia quiseres ter

a essência dos meus versos,

busca a textura dos universos

e no-los hás de compreender.

Silenciosas, rio em curso,

entre as pedras se esgueirando,

folhas secas no percurso

ambulando... ambulando...

São lúcidas caminhadas

que tenho feito na mata,

inspirações liberadas,

os versos vem em cascata.

Anos vividos ?

Nem vamos a fundo...

Todos bem distribuidos

pelos caminhos do mundo.

Nas noites de sossego total

ali no cantinho da praia

vou na paz filosofal

em busca da essência gaia.

Eu um eterno pensador

de coisas tão banais,

talvez aquele sonhador

dos tempos do nunca mais.

Águas jorram brilhando

ao sol da tarde feliz

e a sonoridade me diz

que o riacho desce cantando.

Tente uma noite auscultar

o que dizem as estrelas,

elas podem até ser, sê-las,

maviosas no ciciar.

Papel e caneta, a canetear

vou brincando coas palavras,

mas se aprofundo as lavras

eis-me logo a filosofar.

Coruscantes se debruçam

com as ondas cá na praia,

águas do mar esmiuçam

fragmentos da essência gaia.

Este ventar incessante

de quem ouço o lamento

não é nada diferente,

é o vento parlar, o parlavento.

Artífice da palavra

alguém já sentenciou

e nada disso eu sou

senão obreiro da lavra.

Criaturas adoráveis

os joões-de-barro cantando,

no dia a dia, admiráveis,

cantam se desmanchando.

O meu pensar e mais pensar

anda indagando no mundo

por quê o pensamento profundo

é um eterno filosofar.