Em defesa própria ( escondig-poema provençal em que o autor faz sua própria defesa).

Escondig pós-carnavalização

Não quero apenas defesa,

em todo teatro há a farsa

e a máscara que me disfarça

nenhuma lágrima represa;

vim ao júri popular

para ser transitado em julgado,

prescindo de advogado,

mas não do palhaço a pular;

menti, confesso menti,

menti para a colombina,

e mentira só combina

com a perigosa mente;

escondi pulo do gato

do aprendiz de feiticeiro,

só por causa de dinheiro

segredo vendi barato;

o prazer quis para mim

como amor não dividido,

vi nela sorriso partido

entre os lábios de carmim;

matei, sim, a colombina,

que me quis como arlequim,

fui beber em botequim

minha fúria assassina;

lá mexi com a esposa

do dono do ponto de bicho,

palhaço só sai do nicho

se leva na mão a rosa;

o bicheiro veio armado

me tirar satisfação,

mais rápida foi a ação

de quem me aprisionado

trouxe-me a este recinto

para justiça ser feita,

nos versos que a trova enfeita

com a justeza de um cinto

que amarra calça larga

à cintura do palhaço,

que não quis ter à ilharga

colombina em seu braço,

porque precisava amar

todas mulheres do mundo,

num átimo de segundo

antes de se esfumar.

Colombina, mil perdões,

matei-te somente em sonho,

no pesadelo medonho

de partir mil corações;

e ao júri digo e repito,

amei somente uma vez,

sou mera desfaçatez

da máscara que reflito;

mas quero prisão perpétua

ou até pena de morte,

destruí a minha sorte

na lembrança que é só tua;

Colombina, mil perdões,

matei-te somente em sonho,

no pesadelo medonho

de partir mil corações.

E ao ver-me repartido

entre difusas carências,

de mim tomo o partido

e declaro minha inocência.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 04/10/2010
Reeditado em 05/03/2014
Código do texto: T2536589
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